Que somos todos diferentes uns dos outros ninguém tem
dúvida, da mesma forma, cada um de nós reage à mesma situação, à sua maneira. O
que hoje lançamos como questão é porquê e como é que um mesmo episódeo pode
desencadear reacções tão diversas, algumas vezes até opostas. Por exemplo, uma
criança que recebe uma nota fraca num teste pode reagir negativamente, perdendo
a vontade de estudar e ficando desmotivada, ou pelo contrário, a mesma nota
insatisfatória pode ser ponto de partida para um estudo com maior afinco, uma
vontade de se ultrapassar a si própria e de conseguir alcançar os objectivos.
Quando perante as adversidades da vida o sujeito as consegue enfrentar e
contornar, vencendo as dificuldades diz-se que se trata de Resiliência. O termo
Resiliência, começou a ser usado em Física de Materiais que o descreve como a
resistência do material a choques elevados e a capacidade de uma estrutura para
absorver a energia cinética do meio sem se modificar. Existem pessoas, algumas
conhecidas do grande público, que mesmo tendo tido inicios de vida bastante
complicados e por vezes até crueis, “vão à luta” e conseguem “vencer na vida”.
Outras, perante um problema menor, baixam os braços e sentem-se incapazes de
vencer tal batalha. O que fará então determinar o modo como reagimos aos mais
variados acontecimentos da vida? Apesar de já terem sido efectuados muitos
estudos cientificos, não se pôde chegar a uma conclusão única, no entanto
sabe-se que a auto estima elevada e a consciência que temos do nosso valor, é
sempre uma importante base para o sucesso. Também as pessoas que nos rodeiam
podem influenciar fortemente a nossa forma de estar e de pensar, inclusivamente
o nosso auto conceito. Certo é que o mais importante será saber escolher de
quem nos cercamos, e ter a assertividade de só querermos perto de nós pessoas
que nos influenciem positivamente, que nos transmitam tranquilidade e segurança
e afastarmo-nos de todas as que desdenham de nós, do nosso trabalho e que
manifestem palavras de desagrado que nos incomodam. Somos nós os mentores da
nossa felicidade, e por isso a mais niguém cabe as escolhas que reverterão a
nosso favor e para nosso benificio . Também por isso é preciso acreditar e
perceber que o nosso destino/futuro, ou boa parte dele, depende de nós e do que
nós dele fizermos. Sonhar e traçar objectivos de vida é comum a todos os
mortais, a grande diferença para obter o que tanto se deseja, reside no empenho
e esforço que cada um deposita nas tarefas que o levarão ao alcance das metas
pessoais. Há quem chame administrar emoções, a outro dos factores
preponderantes para se ser resiliente. Passa por controlar os impulsos e manter
a serenidade perante situações de stress. Se depois de avaliarmos calmamente
uma situação e a ponderarmos sob todos os pontos de vista possiveis,
concluirmos uma opinião então, devemos avançar uma reacção. Depreende-se assim
que, mais que uma reacção negativa ou positiva, a resiliência reside
provavelmente na pré-disposição negativa ou positiva. Ou seja, antes de
reagirmos (que significa respondermos a alguém ou algo através de uma atitude),
existe um intervalo de tempo que nos permite, nem sempre de forma consciente,
tomarmos a decisão sobre a forma como vamos reagir ou responder à mesma. Cabe ao
individuo definir, através da reflexão que faz sobre o rumo que quer dar à sua
vida, e à sua forma de ser e estar, se pretende encarar positivamente os
multiplos eventos quotidianos, o que não é mais que se pré-dispor a
responder/reagir de forma optimista aos contratempos que lhe surgirem. Essa
decisão permitir-lhe-à suavizar uma situação penosa, e aligeirá-la de forma a
descobrir soluções para a vivenciar. Bem como tirar ilações das más
experiências, analisá-las e perceber a importância que tiveram na sua vida e
que processos transformadores e maturadores provocaram. Para tal é
indissociavel a capacidade de construção positiva, a superação, a flexibilidade
cognitiva e a capacidade de dar um novo significado aos problemas. Podemos
considerar então que ser resiliente é ser cauteloso, pensar antes de agir, ter
capacidade de reflexão , ter autonomia, assertividade, ética, discernimento,
capacidade de relacionamento, mas sobretudo uma característica indispensável, a
inteligência. Trata-se de, apesar das feridas e eventuais traumatismos, o
sujeito os ultrapassar e se reestruturar mesmo estando exposto sucessiva ou
acumuladamente a ambientes adversos, fazendo-o com o mínimo de
disfuncionalidade para o seu desenvolvimento, agindo com equilíbrio na forma de
pensar e de agir. Cria a partir daí condições de sobrevivência e cria
igualmente uma estrutura física e psicológica envolta de alguma imunidade, que
lhe permita adaptar-se às situações por mais imprevisiveis, e encontrar
respostas favoraveis de resolução para cada uma delas.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica
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