Enquanto a medicina tem na oncologia pediátrica a área que se
consagra a estudar o cancro infantil, a psico-oncologia pediátrica, dentro da
psicologia da saúde, estuda a influência de factores psicológicos na
manifestação e desenvolvimento do cancro infantil. Mas o cancro não é uma
doença física? É! Então poderemos nós influenciar o seu desenvolvimento através
das nossas atitudes? Podemos! “Que podemos esperar de um doente pessimista, que
é examinado por um médico pessimista, com atitude negativa ou de fuga em
relação ao cancro?”. Provavelmente muito pouco e é por isso que interessa
aprofundar a questão da “atitude” e perceber se, após a recepção da notícia por
parte não só da criança, mas também dos pais e posterior tomada de decisão
sobre como agir perante a situação, tal facto se repercute correspondentemente
nas respostas imunológicas da criança, ou seja, se uma atitude positiva por
parte dos pais da criança à qual foi diagnosticado o cancro, resulta num factor
determinante para a melhoria sintomática e evolução positiva, no sentido da
cura. Mais que uma defesa, a atitude positiva é uma estratégia de coping, se considerarmos que é o caminho
encontrado conscientemente pelos pais para se adaptarem a circunstâncias
adversas e/ou stressantes através de um planeamento, um traçar de objectivos
tendo em conta a situação apresentada. Ter atitude positiva é reconhecer as
limitações nas situações, acreditando ao mesmo tempo que as oportunidades
também existem. Considerando o comportamento parental resultante do tipo de
atitude escolhida, realçamos que, o conhecimento dos pais do teor da doença
prévio ao diagnóstico; a forma como a transmissão do mesmo é feita pelo
profissional de saúde; o estado psicológico em que a criança e os pais se
encontram nesse momento; o tipo de personalidades dos pais e da criança antes
da doença; a relação existente entre os pais e entre os pais e a criança, e a
idade e compreensão cognitiva desta no momento do diagnóstico, são alguns dos
factores psicológicos que irão determinar o apoio dos pais no acompanhamento de
uma criança com cancro. E considerando este suporte sem dúvida alguma fulcral,
importa ter ainda em conta as crenças, os sentimentos, as opiniões, as condutas
e condições sociais, e a estrutura familiar. As complexas situações pessoais,
médicas e terapêuticas com que os pacientes se deparam, fazem-nos mais
susceptíveis ao desenvolvimento de problemas e complicações emocionais e uma
franca diminuição na sua qualidade de vida, com implicações físicas,
psicológicas, familiares, económicas e sociais entre outras. O contexto em que
a criança se encontra habitualmente, o seu meio ambiente e entourage familiar, escolar, de amizade, assim como o seu
quotidiano e rotinas serão, a partir do preciso momento em que os pais tomam
conhecimento do estado de saúde do seu filho, completa e drasticamente
alterados, sendo muitas vezes irrecuperáveis. É de fácil percepção a raridade
de instituições hospitalares preparadas convenientemente para receber uma
criança com cancro. O pessoal auxiliar não tem formação ou treino para oferecer
uma atenção integral, tão pouco uma resposta adequada às possíveis e prováveis
complicações advindas dos tratamentos, por falta de conhecimentos básicos de
oncologia e psico-oncologia pediátrica. É imprescindível esse conhecimento,
assim como o de cada uma das etapas do padecimento, para diminuir a ansiedade
da criança e dos pais e assim favorecer a aderência ao tratamento, o que levará
a resultados comprovadamente mais eficazes. A juntar a isto, deve ser utilizada
uma linguagem fácil e acessível que permita à criança compreender o que se
passa consigo, bem como fornecida toda a informação correspondente, quer ao
estado de saúde em que se encontra, quer ao que se avizinha, cuidando para que
as explicações dadas não contenham pormenores desnecessários ou informação
excessiva, bastando clarificar as dúvidas dos pais e paciente, para que estas
não gerem ansiedade, medos e consequente indisponibilidade física e psicológica
(atitude negativa) aos tratamentos imperativamente propostos. Sabemos que o
medo; a ignorância e a negligência são os grandes aliados da doença oncológica
e que a reacção a estes factores determina a atitude e o comportamento do
público. Sabemos pelo menos que as acções dos pais são exemplos nos filhos,
assim, julgamos um forte indicador de que, havendo uma atitude positiva nos
pais, a criança padecente de cancro, tenha ela também uma atitude positiva e
suas consequências, também elas positivas. “Curar o doente oncológico é mais
que remover, cirurgicamente, a doença; tratar o doente é mais que administrar
drogas ou radiações. O doente só fica verdadeiramente livre de sintomas, quando
sejam igualmente, erradicado o medo, o desespero, a perda de dignidade e a
perda de confiança e fé.”
Silvia Silva - Psicologa Clínica
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