sábado, 3 de agosto de 2013

Cancro infantil



Enquanto a medicina tem na oncologia pediátrica a área que se consagra a estudar o cancro infantil, a psico-oncologia pediátrica, dentro da psicologia da saúde, estuda a influência de factores psicológicos na manifestação e desenvolvimento do cancro infantil. Mas o cancro não é uma doença física? É! Então poderemos nós influenciar o seu desenvolvimento através das nossas atitudes? Podemos! “Que podemos esperar de um doente pessimista, que é examinado por um médico pessimista, com atitude negativa ou de fuga em relação ao cancro?”. Provavelmente muito pouco e é por isso que interessa aprofundar a questão da “atitude” e perceber se, após a recepção da notícia por parte não só da criança, mas também dos pais e posterior tomada de decisão sobre como agir perante a situação, tal facto se repercute correspondentemente nas respostas imunológicas da criança, ou seja, se uma atitude positiva por parte dos pais da criança à qual foi diagnosticado o cancro, resulta num factor determinante para a melhoria sintomática e evolução positiva, no sentido da cura. Mais que uma defesa, a atitude positiva é uma estratégia de coping, se considerarmos que é o caminho encontrado conscientemente pelos pais para se adaptarem a circunstâncias adversas e/ou stressantes através de um planeamento, um traçar de objectivos tendo em conta a situação apresentada. Ter atitude positiva é reconhecer as limitações nas situações, acreditando ao mesmo tempo que as oportunidades também existem. Considerando o comportamento parental resultante do tipo de atitude escolhida, realçamos que, o conhecimento dos pais do teor da doença prévio ao diagnóstico; a forma como a transmissão do mesmo é feita pelo profissional de saúde; o estado psicológico em que a criança e os pais se encontram nesse momento; o tipo de personalidades dos pais e da criança antes da doença; a relação existente entre os pais e entre os pais e a criança, e a idade e compreensão cognitiva desta no momento do diagnóstico, são alguns dos factores psicológicos que irão determinar o apoio dos pais no acompanhamento de uma criança com cancro. E considerando este suporte sem dúvida alguma fulcral, importa ter ainda em conta as crenças, os sentimentos, as opiniões, as condutas e condições sociais, e a estrutura familiar. As complexas situações pessoais, médicas e terapêuticas com que os pacientes se deparam, fazem-nos mais susceptíveis ao desenvolvimento de problemas e complicações emocionais e uma franca diminuição na sua qualidade de vida, com implicações físicas, psicológicas, familiares, económicas e sociais entre outras. O contexto em que a criança se encontra habitualmente, o seu meio ambiente e entourage familiar, escolar, de amizade, assim como o seu quotidiano e rotinas serão, a partir do preciso momento em que os pais tomam conhecimento do estado de saúde do seu filho, completa e drasticamente alterados, sendo muitas vezes irrecuperáveis. É de fácil percepção a raridade de instituições hospitalares preparadas convenientemente para receber uma criança com cancro. O pessoal auxiliar não tem formação ou treino para oferecer uma atenção integral, tão pouco uma resposta adequada às possíveis e prováveis complicações advindas dos tratamentos, por falta de conhecimentos básicos de oncologia e psico-oncologia pediátrica. É imprescindível esse conhecimento, assim como o de cada uma das etapas do padecimento, para diminuir a ansiedade da criança e dos pais e assim favorecer a aderência ao tratamento, o que levará a resultados comprovadamente mais eficazes. A juntar a isto, deve ser utilizada uma linguagem fácil e acessível que permita à criança compreender o que se passa consigo, bem como fornecida toda a informação correspondente, quer ao estado de saúde em que se encontra, quer ao que se avizinha, cuidando para que as explicações dadas não contenham pormenores desnecessários ou informação excessiva, bastando clarificar as dúvidas dos pais e paciente, para que estas não gerem ansiedade, medos e consequente indisponibilidade física e psicológica (atitude negativa) aos tratamentos imperativamente propostos. Sabemos que o medo; a ignorância e a negligência são os grandes aliados da doença oncológica e que a reacção a estes factores determina a atitude e o comportamento do público. Sabemos pelo menos que as acções dos pais são exemplos nos filhos, assim, julgamos um forte indicador de que, havendo uma atitude positiva nos pais, a criança padecente de cancro, tenha ela também uma atitude positiva e suas consequências, também elas positivas. “Curar o doente oncológico é mais que remover, cirurgicamente, a doença; tratar o doente é mais que administrar drogas ou radiações. O doente só fica verdadeiramente livre de sintomas, quando sejam igualmente, erradicado o medo, o desespero, a perda de dignidade e a perda de confiança e fé.”


Silvia Silva - Psicologa Clínica

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