sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Assédio moral no trabalho ou Mobbing


A crise, apesar de relativamente recente já nos parece velha de tão ouvida, debatida e opinada. Já muito se escreveu sobre o tema: o que é, como surgiu, como evitar ou como contornar a situação. Contudo, a importância de alertar para os seus efeitos secundários aumenta. A crise financeira tornou-se desculpa para muitas situações e atitudes que em nada se associam às questões económicas. Quem não ouviu já falar em Lay-off? Embora a grande parte da população nunca tenha ouvido tal designação, actualmente muitos sabem que este termo significa redução no horário de trabalho, redução no salário e consequente instabilidade no emprego, e ameaça do futuro de famílias inteiras.

Outro termo talvez ainda mais estranho ao ouvido de todos nós é: Mobbing, mesmo que muitos já o sintam diariamente e sofram os efeitos que este pretende provocar. Mobbing, termo inglês associado a agressão, maus tratos ou ataque a alguém, são todos os actos, subtis ou não, ocorridos de forma sistemática e continua que no local de trabalho, não necessariamente na pessoa do patrão, são infligidos no funcionário de forma a humilhá-lo, frustrá-lo e impedi-lo de exercer as suas funções normais, com o objectivo de lhe provocar um mau estar insuportável e assim o afastar da empresa, fazendo com que seja o próprio a apresentar a demissão ou o pedido de reforma antecipado. Mobbing reflecte-se em comportamentos, dotados de agressividade física ou psicológica, ou situações de persecução que pretendem diminuir a auto-estima da vítima, bem como colocá-la numa posição onde dificilmente conseguirá defender-se. Exemplos disso podem ser acusações injustas de erros profissionais, rumores maldosos sobre a vítima, inutilidade das funções atribuídas ou desautorização. Algumas estratégias utilizadas passam por impedir o trabalhador de desempenhar as suas funções retirando-lhe o seu posto de trabalho como a secretária, o telefone, viatura da empresa e internet, isolando o funcionário, colocando-o por vezes numa sala vazia, separado da restante equipa de trabalho. O mobbed/vítima vai ficando cada vez mais debilitado e aterrorizado, resultado dos comportamentos hostis, ausentes do sentido de ética ou de justiça sofridos. Esta não é de todo uma situação nova, os primeiros estudos remontam ao inicio da década de 80 pela mão de um grupo de estudiosos liderado por Heinz Leymann e tem vindo a suscitar cada vez mais interesse na área do estudo do comportamento por se tratar de um fenómeno crescente, muitas vezes confundido com Bullying, apesar deste ultimo ser normalmente associado a uma faixa etária mais jovem e ao universo escolar. Outro termo relacionado é Bossing. Se Bullying significa agir com arrogância, Bossing significa chefiar com arrogância. Já Mobbing, ainda que semelhante por ser exercido no local de trabalho, destingue-se por poder ser praticado por um ou mais mobber/funcionários da mesma empresa, a um mobbed/vitima, com um cargo hierárquico inferior ou não, podendo inclusivamente o atacante ser um subalterno.

A realidade actual potencia enormemente esta situação: seja por parte da entidade patronal que quer ver os recursos humanos reduzidos sem os custos que a isso é obrigada; quer por parte dos colegas de trabalho, independentemente da semelhança das funções exercidas por cada um, que, motivados pelo receio de perder o seu posto de trabalho dão inicio a uma estratégia de destruição psicológica, profissional e social.

A vítima de Mobbing, no seu extremo, sente-se de tal forma debilitada que é atingida a todos os níveis: pessoal, afectivo, familiar, social e sobretudo psicológico, fruto do transtorno profissional vivenciado. Também a nível físico dão-se manifestações graves: stresse, alteração do sistema nervoso, ansiedade, perturbações a nível do sono e ou da alimentação, depressão, eczemas, erupções cutâneas ou tumores. Estas são algumas das reacções psicossomáticas a este fenómeno que apesar de tão grave, mantém-se praticamente inaudível tal a dificuldade em provar os acontecimentos a que a vítima é sujeita. Para tal muito contribuem os colegas, chamados de sighted mobber, que têm conhecimento da situação, presenciam alguns acontecimentos e no entanto mantêm-se indiferentes, não tomando nenhuma posição de defesa para com o colega, co-agindo assim com o agressor. O medo de represálias, a qualidade da posição hierárquica que ocupa, ou a afinidade que sente com o agressor, por também ele desejar “livrar-se” daquele colega como forma de manter o seu posto de trabalho, podem justificar este comportamento.

Também a lei portuguesa não especifica uma protecção jurídica para os trabalhadores vitimas de Mobbing ou Assédio Moral, apesar do Projecto de Lei nº 252/VIII de 2000 destinado à Protecção Laboral Contra o Terrorismo Psicológico ou Assédio Moral.

Perante tal situação de impunidade, o melhor será estar atento e tentar promover condições para que as situações vividas possam ser provadas.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

 

 

 

 

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