Todos nós já ouvimos alguém à
nossa volta dizer que se sente triste, que acha até que está deprimido. A
depressão não é um estado passageiro, não se trata de um dia ou de uma semana
em que estamos por um motivo ou outro mais em baixo, o que leva a uma variação
de humor. Também não é um único afecto que pode definir o estado geral do indivíduo.
A depressão é uma doença da mente, caracterizada por tristeza sim, mas mais que
isso, manifesta-se de forma marcante ou prolongadamente. Ter sentimentos depressivos
é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afectam de forma
negativa. Ainda assim, uma pessoa com depressão não tem obrigatoriamente que
estar a sofrer uma perturbação grave da sua estabilidade psicossocial, podendo
antes encontrar-se a atravessar um período não só inevitável como necessário à
sua evolução normal. Então o que podemos
identificar como sintomas de depressão? Alterações de apetite e do sono;
cansaço e perda de energia; sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e
de auto-estima; sentimentos de culpa e de incapacidade; alterações da
concentração; preocupação com o sentido da vida e com a morte; desinteresse,
apatia e tristeza; alterações do desejo sexual; irritabilidade; lentificação
das actividades físicas e mentais; chorar à-toa ou dificuldade em chorar; sensação
de desesperança; dificuldade em terminar as coisas que começou ou sentimento de
pena de si mesmo. Perante tais sintomas não podemos indicar uma justificação
para que certas pessoas sejam mais susceptíveis que outras a ficarem
deprimidas, pode no entanto dizer-se que existe antes de tudo uma predisposição
no individuo para que tal aconteça, e que existem
factores que podem influenciar o aparecimento e permanência de episódios
depressivos, como situações ou condições de vida adversas: o divórcio, desemprego
ou perda de um ente querido; aparecimento de doenças crónicas, infecciosas
mentais ou hormonais, e o mesmo pode suceder com determinados medicamentos. Pessoas
que já tiveram episódios de depressão ou história familiar de depressão, que
coabitam com portadores de doenças graves ou têm empregos geradores de stress
têm à partida maior propensão para despoletar casos depressivos. Sabe-se ainda
que existe um número significativamente superior de mulheres e uma incidência
nos períodos da adolescência, pós-parto, menopausa e velhice. No entanto atinge
todas as faixas etárias e se não for tratada, a depressão pode ter como
consequência o suicídio, resultante dos vinte por cento da população portuguesa
afectada e que se reflecte em mais de 1200 mortes por ano. Por este motivo, determinar
qual o factor ou os factores que desencadearam a crise depressiva pode ser
importante, pois para o doente é indispensável aprender a lidar com esse factor
por meio de tratamento. Uma em quatro pessoas em todo o mundo sofre de
depressão e é esta a principal causa de incapacidades e a segunda de perda de
anos de vida saudáveis entre as 107 doenças e problemas de saúde mais
relevantes. Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com
todos os sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos.
Até que se faça o diagnóstico as pessoas vão encontrando explicações para o que
lhes está a acontecer, julgando sempre ser um problema passageiro. A depressão
pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da
capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia e à
perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis. Podendo
durar de alguns meses a alguns anos, é indispensável pensar em procurar ajuda
quando os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica
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