terça-feira, 6 de agosto de 2013

A importância de brincar


Tal como a alimentação, os bons hábitos de sono e a higiene, contribuem de igual modo para o bom desenvolvimento psicomotor da criança as actividades lúdicas, ou seja, a brincadeira. O tempo dos pais escasseia à medida que as exigências do mundo do trabalho aumentam. Um dia em que o pai tenha chatices no emprego e a mãe chegue tão cansada a casa que se limite a dar de comer aos filhos, dar-lhes banho e enfiá-los na cama é considerado normal e até rotina. Fica a faltar o estar com a criança, brincar com ela, trocar experiências perdendo-se assim entre outras coisas fontes de conhecimento mútuo. Os estudos apontam Portugal como o país da Europa em que os pais menos brincam com os seus filhos e apenas seis por cento das crianças portuguesas têm esse privilégio diariamente. A importância de brincar reflecte-se nas potencialidades e habilidades psicomotoras que os jogos lúdicos promovem através do exercício da imaginação e promovem o desenvolvimento das aptidões sociais, motoras, afectivas, cognitivas e da linguagem. Considera-se fundamental para o desenvolvimento harmonioso do jovem ser, que todos os dias pais e filhos brinquem juntos pelo menos algum tempo, em que a qualidade e entrega no mesmo seja a ter mais em conta do que a quantidade. Quando brincam no bairro ou no parque infantil os mais pequenos experienciam actividades ao ar livre e em grupo desenvolvendo com autonomia, capacidades lúdicas e sociais. A criança utiliza o brincar como meio de experimentar o mundo, percebe-lo, conhece-lo, descobrir como funciona e se desenvolve. É a sua forma de se preparar para dele fazer parte, ganhando através dessas experiências noções espaciais e sonoras e adquirindo a liberdade de tentar andar e falar, propiciando assim a natural evolução da sua locomoção e da fala. Com a aquisição da linguagem começam os jogos de imitação, as brincadeiras de faz-de-conta, as canções e as lengalengas, construindo uma base indispensável na futura aprendizagem da leitura e escrita. As formas de brincar vão-se alterando à medida que a criança cresce e as suas necessidades psicológicas e sociais a isso exigem. Manusear objectos, jogar, empilhar e explorar o mundo ainda que de forma primária refere-se à fase sensório-motora, que diz respeito à etapa inicial do desenvolvimento cognitivo. A criança precisa de treinar a organização do pensamento, a simbolização, e exprimir através da brincadeira e dos objectos que dela fazem parte, as suas necessidades, desejos, medos, experiências e sobretudo o que as magoa e atormenta. Utilizando a sua primeira forma de comunicação, para brincar a criança depende inicialmente do adulto para o conseguir fazer. Sobretudo com a mãe, pessoa mais próxima do bebé, começa por interagir com ela sorrindo e olhando-a e reagindo aos seus estímulos, demonstrando imediatamente a necessidade de brincar, mas também com o pai e restantes familiares, a criança estabelece elos de comunicação através de expressões não verbais, de manifestações que podem incluir a brincadeira. O atirar ao chão um objecto para o adulto o apanhar, repetindo-o vezes sem conta é uma estratégia que a criança encontrou para pôr o outro a brincar consigo. Quando monta e desmonta um brinquedo está a tentar percebe-lo, entender de que é feito e como é feito. E todas as vezes que não o consegue voltar a montar, a criança frustra-se e tenta de novo, vendo-se obrigada a arranjar estratégias novas para resolver o problema, explorando dessa forma o seu potencial intelectual. Um adulto que brinque assiduamente com o seu filho, estabelece assim uma forte ligação afectiva e intimidade com este. Começa a saber o que ele gosta, o que não gosta tanto, o que o incomoda ou o que o deixa deveras feliz. Quando inquiridas as crianças respondem que preferem brincar com os pais, fazer com estes actividades ao ar livre e utilizar brinquedos para ocupar os seus tempos livres, do que ver televisão ou jogar computador, ao contrário do que se poderia pensar. Estas últimas actividades surgem como preferidas em crianças que não têm hábitos de brincadeira com os pais, estando estes por regra, muito ocupados ou despendendo pouco tempo para com os filhos. Quando um pai ou mãe brinca com o seu filho está imperativamente a estimulá-lo, a dar-lhe atenção, a transmitir-lhe confiança, a interagir com ele, integrando-o deste modo no seu universo que é o mundo real. A aquisição da comunicação e o seu desenvolvimento dependem de factores como o afectivo, o social e o biológico. Neste ultimo destaca-se o processo de maturação do sistema nervoso central que é responsável por todo o desenvolvimento do indivíduo. Esse desenvolvimento influencia a brincadeira da mesma forma que a brincadeira influência o normal decorrer do desenvolvimento. Quando isso não acontece e a criança se vê privada de momentos lúdicos e do brincar, pode ter sérias repercussões tanto no seu estado psicológico, como físico ou social. O facto de não ter explorado o brincar promove insegurança, medos e isolamento social, que muitas vezes permanecem ao longo da vida.
 
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

 

 

 

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