Para
conseguirmos levar a cabo as tarefas diárias que nos consomem energia, temos
obrigatoriamente que ao fim de algum tempo nos recarregarmos e “encher o depósito
que esvaziamos”, de maneira a voltarmos a estar prontos para novos ou repetidos
desafios quotidianos. Algumas das recargas das quais falamos tratam-se da
alimentação e do sono. Uma como outra, são indispensáveis ao bom funcionamento
do ser humano, por serem restauradoras e reparadoras das necessidades básicas.
No que respeita o sono, a necessidade varia de individuo para individuo.
Existem pessoas para as quais quatro horas de sono são suficientes, mas existem
aquelas que precisam no mínimo de nove horas para se sentirem repousadas. Também
dependendo do horário de trabalho (turnos por exemplo), nem sempre é possível
dormir no período mais provável (noite), nem à mesma hora ou a mesma quantidade
de tempo. Quando o sono não se verifica ou é de fraca qualidade, assim como
quando aparece durante o dia, insurgindo-se no meio das actividades diárias, quando
o tempo total de sono é insuficiente ou é excessivo, dizemos que a pessoa sofre
de Distúrbios do Sono ou Sonopatia. De origem biológica ou psicológica e
resultantes do meio ambiente, estas perturbações podem ser várias, e de entre elas
destacam-se: Apneia do sono (suspensão da respiração); Bruxismo (ranger os
dentes); Pesadelos (sonho penoso); Narcolepsia (sonolência diurna excessiva); Terrores
nocturnos (terror e gritos durante o sono); Sonambulismo (falar, sentar ou
andar durante o sono); Jet lag (consequência de viagem e alteração de fusos
horários); Síndrome das pernas inquietas (distúrbio neurológico que se
manifesta por ardor e dor nas pernas) ou Insónia (dificuldade em iniciar o sono
ou mantê-lo). Mas porque será o sono assim tão importante? Poder-se-ia pensar
que quanto menos horas despendêssemos a dormir, mais tempo restaria disponível
para efectuar todas as tarefas e obrigações do dia a dia. Errado. O sono serve
para descansarmos, como foi dito: para recarregarmos energias, no fundo serve
para estarmos acordados, motivados e interessados durante o dia. Por isso é
necessário que da mesma forma, estejamos alerta e despertos durante o dia, para
que à noite possamos dormir. Quando não dormimos ou dormimos mal começamos a
ficar indispostos, cansados, irritados e indisponíveis para trabalharmos,
estudarmos ou simplesmente estarmos com as pessoas que nos rodeiam, podendo
inclusivamente chegarmos a ser agressivos. Um dos mais frequentes distúrbios do
sono são as Insónias e manifestam-se não só pela dificuldade em adormecer mas
também em manter o sono, havendo uma vigília intermitente ou um despertar
matinal demasiado precoce. Quando algum problema surge na nossa vida, é normal
que isso nos afecte ao ponto de transtornar o nosso sono. Bem como quando algo
de importante está para acontecer e o evento nos deixa cheios de ansiedade, é
provável que deixemos de dormir com a mesma tranquilidade. Nestas situações
falamos de Insónias Transitórias ou de Curta Duração. Quando o problema se
resolve ou o grande acontecimento passa, por norma este distúrbio desaparece.
No entanto, quando isto não sucede num período até seis meses e as dificuldades
em adormecer ou manter o sono persistem, passa a tratar-se de Insónia Crónica.
A partir daqui o sofrimento é tal que a inevitabilidade do cair da noite e a consequente
ida para a cama provocam um medo desesperador. Conseguir dormir transforma-se
numa obsessão, num claro impedimento à qualidade de vida, reflectindo-se tanto
nos relacionamentos como na vida social e obviamente resultando em problemas no
trabalho e consequente e progressiva baixa de auto-estima. As limitações de
sono prejudicam não só a nível mental como físico e a sensação de cansaço,
dores de cabeça constantes, perdas de concentração e memória são sinais de
debilidade do sistema imunitário que, por efeito, fica mais susceptível e
atrito a doenças. A falta de sono reparador impede a regeneração natural da
pele, as olheiras persistentes são disso prova e para além da iminência de
ansiedade e depressão, os riscos de acidente estão na ordem dos 20%.
Dos
três milhões de portugueses que sofrem de Distúrbios de sono, estima-se que na
maioria dos casos a origem esteja no stress, doenças, toma de estimulantes e
hábitos sociais inadequados. Assim, o tratamento pode passar pelo assimilar e
pôr em prática de uma nova rotina, onde se incluem horas certas para deitar e
levantar, bem como exercícios e técnicas de relaxamento. Embora existam
situações que obriguem a toma de medicação, aconselha-se o acompanhamento
psicoterapêutico, que funciona em 95% dos casos.
Silvia Silva - Psicologa Clínica
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