Por ser uma doença que apresenta um
quadro, aquando das crises mais graves, que assusta e impressiona negativamente
quem o assiste, a epilepsia tem sido desde sempre muito encoberta, no que diz
respeito ao seu esclarecimento e a ela estão relacionados muitos mitos. Em
Portugal estima-se que por cada mil habitantes, até sete pessoas podem sofrer
de epilepsia. Podendo atingir qualquer pessoa e começar em qualquer idade,
inicia-se sobretudo em jovens até aos vinte e cinco anos, sendo que setenta e cinco
por cento acontece antes dos dezoito anos.
Trata-se de uma alteração na
actividade eléctrica do cérebro que despoleta descargas neuronais, através de
sinais eléctricos incorrectos decorrentes no cérebro. Manifesta-se através de
crises convulsivas motoras, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas, que por
norma duram poucos minutos. Podem ser crises parciais, simples ou complexas,
sendo estas ultimas as mais conhecidas, pela sua intensidade, uma vez que,
nestas circunstâncias, o individuo perde por completo a consciência, involuntariamente
contrai a musculatura corporal ficando completamente hirto, podendo daí
resultar movimentos desordenados e consequente queda violenta.
Nestes casos a descarga envolve todo o cérebro, o paciente fica “ausente” e
quando acorda não se lembra de nada do que aconteceu. Nesse período de tempo
existe salivação em abundância, eliminação de fezes ou urina.
Para além de ser o órgão que controla
todas as acções, desde os movimentos às emoções, passando pela memória e
pensamentos, é também ao cérebro que cabe a tarefa de regular as funções dos
restantes órgãos do corpo humano. Quando se dá um
"curto-circuito" no cérebro, e parte ou todas as células se
descarregam anormalmente, daí resultando um ataque epiléptico, isso compromete
toda a actividade regular do indivíduo. Nas crises menos profundas a
descarga limita-se a uma área cerebral e podem dar-se algumas alterações na
percepção geral que podem reverter em discurso incoerente ou emoções como o
medo. Assim, é fácil confundir convulsões febris, normais sobretudo em
crianças, com epilepsia. Outras origens de crises podem ser choques eléctricos,
deficiência de oxigénio, traumatismo craniano, avc’s, baixo nível de açúcar no
sangue ou causas relacionadas com álcool, nomeadamente privação do mesmo, ou
com drogas e medicamentos, mudanças súbitas de intensidade da luz ou luzes a
piscar, privação de sono, cansaço e ansiedade.
Tal como nas convulsões febris, também
nestes casos estamos perante situações isoladas e por
isso não podemos concluir tratar-se da doença. Para que possa ser assim
considerada, a epilepsia deve pronunciar-se por crises repetidas que aconteçam
ao longo do tempo.
Desfazendo o mito que as principais
causas da epilepsia se devem a aspectos genéticos ou hereditários (o que na
realidade acontece mas numa percentagem pouco importante), há sim a ter em conta
tumores, partos mal conduzidos, infecções graves ou meningites na proveniência
da epilepsia.
Desde a antiguidade considerados como
demoníacos, lunáticos, maníacos ou doentes mentais, os epilépticos detiveram
sobre si uma carga psicológica e social negativa que afasta os demais.
Associado aos ataques epilépticos está um profundo estigma que provoca
descriminação social e consequentemente no doente medo, ansiedade e isolamento.
Para que essa barreira seja ultrapassada é importante haver informação sobre o
que fazer perante uma crise. Então, a saber:
- Proteja
a cabeça da vítima com uma almofada e desaperte-lhe a roupa.
- A
pessoa poderá morder a própria língua, mas não irá engoli-la. Por isso,
não lhe coloque objectos na boca nem tente puxar a língua para fora.
- Deixe a
vítima debater-se livremente. Coloque-a deitada em posição lateral para que
a saliva escorra e a pessoa não se engasgue.
- Mantenha-a
em repouso no fim da convulsão. Deixe-a dormir.
- Não
deite água sobre a vítima, não lhe bata na cara e não tenha receio (a
saliva de uma pessoa com epilepsia não transmite a doença). Não deve fazer
massagem no coração ou respiração boca-a-boca.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica
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