A crise, apesar de relativamente
recente já nos parece velha de tão ouvida, debatida e opinada. Já muito se
escreveu sobre o tema: o que é, como surgiu, como evitar ou como contornar a
situação. Contudo, a importância de alertar para os seus efeitos secundários aumenta.
A crise financeira tornou-se desculpa para muitas situações e atitudes que em
nada se associam às questões económicas. Quem não ouviu já falar em Lay-off?
Embora a grande parte da população nunca tenha ouvido tal designação,
actualmente muitos sabem que este termo significa redução no horário de
trabalho, redução no salário e consequente instabilidade no emprego, e
ameaça do futuro de famílias inteiras.
Outro
termo talvez ainda mais estranho ao ouvido de todos nós é: Mobbing, mesmo que
muitos já o sintam diariamente e sofram os efeitos que este pretende provocar.
Mobbing, termo inglês associado a agressão, maus tratos ou ataque a alguém, são
todos os actos, subtis ou não, ocorridos de forma sistemática e continua que no
local de trabalho, não necessariamente na pessoa do patrão, são infligidos no
funcionário de forma a humilhá-lo, frustrá-lo e impedi-lo de exercer as suas
funções normais, com o objectivo de lhe provocar um mau estar insuportável e
assim o afastar da empresa, fazendo com que seja o próprio a apresentar a
demissão ou o pedido de reforma antecipado. Mobbing reflecte-se em
comportamentos, dotados de agressividade física ou psicológica, ou situações de
persecução que pretendem diminuir a auto-estima da vítima, bem como colocá-la
numa posição onde dificilmente conseguirá defender-se. Exemplos disso podem ser
acusações injustas de erros profissionais, rumores maldosos sobre a vítima,
inutilidade das funções atribuídas ou desautorização. Algumas estratégias
utilizadas passam por impedir o trabalhador de desempenhar as suas funções
retirando-lhe o seu posto de trabalho como a secretária, o telefone, viatura da
empresa e internet, isolando o funcionário, colocando-o por vezes numa sala
vazia, separado da restante equipa de trabalho. O mobbed/vítima vai ficando
cada vez mais debilitado e aterrorizado, resultado dos comportamentos hostis,
ausentes do sentido de ética ou de justiça sofridos. Esta não é de todo uma
situação nova, os primeiros estudos remontam ao inicio da década de 80 pela mão
de um grupo de estudiosos liderado por Heinz Leymann e tem vindo a suscitar cada
vez mais interesse na área do estudo do comportamento por se tratar de um
fenómeno crescente, muitas vezes confundido com Bullying, apesar deste ultimo
ser normalmente associado a uma faixa etária mais jovem e ao universo escolar.
Outro termo relacionado é Bossing. Se Bullying significa agir com arrogância,
Bossing significa chefiar com arrogância. Já Mobbing, ainda que semelhante por
ser exercido no local de trabalho, destingue-se por poder ser praticado por um
ou mais mobber/funcionários da mesma empresa, a um mobbed/vitima, com um cargo
hierárquico inferior ou não, podendo inclusivamente o atacante ser um
subalterno.
A
realidade actual potencia enormemente esta situação: seja por parte da entidade
patronal que quer ver os recursos humanos reduzidos sem os custos que a isso é
obrigada; quer por parte dos colegas de trabalho, independentemente da
semelhança das funções exercidas por cada um, que, motivados pelo receio de perder
o seu posto de trabalho dão inicio a uma estratégia de destruição psicológica,
profissional e social.
A
vítima de Mobbing, no seu extremo, sente-se de tal forma debilitada que é
atingida a todos os níveis: pessoal, afectivo, familiar, social e sobretudo
psicológico, fruto do transtorno profissional vivenciado. Também a nível físico
dão-se manifestações graves: stresse, alteração do sistema nervoso, ansiedade,
perturbações a nível do sono e ou da alimentação, depressão, eczemas, erupções
cutâneas ou tumores. Estas são algumas das reacções psicossomáticas a este
fenómeno que apesar de tão grave, mantém-se praticamente inaudível tal a
dificuldade em provar os acontecimentos a que a vítima é sujeita. Para tal
muito contribuem os colegas, chamados de sighted mobber, que têm conhecimento
da situação, presenciam alguns acontecimentos e no entanto mantêm-se
indiferentes, não tomando nenhuma posição de defesa para com o colega,
co-agindo assim com o agressor. O medo de represálias, a qualidade da posição
hierárquica que ocupa, ou a afinidade que sente com o agressor, por também ele
desejar “livrar-se” daquele colega como forma de manter o seu posto de
trabalho, podem justificar este comportamento.
Também
a lei portuguesa não especifica uma protecção jurídica para os trabalhadores
vitimas de Mobbing ou Assédio Moral, apesar do Projecto de Lei nº 252/VIII de
2000 destinado à Protecção Laboral Contra o Terrorismo Psicológico ou Assédio
Moral.
Perante
tal situação de impunidade, o melhor será estar atento e tentar promover
condições para que as situações vividas possam ser provadas.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica