sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Assédio moral no trabalho ou Mobbing


A crise, apesar de relativamente recente já nos parece velha de tão ouvida, debatida e opinada. Já muito se escreveu sobre o tema: o que é, como surgiu, como evitar ou como contornar a situação. Contudo, a importância de alertar para os seus efeitos secundários aumenta. A crise financeira tornou-se desculpa para muitas situações e atitudes que em nada se associam às questões económicas. Quem não ouviu já falar em Lay-off? Embora a grande parte da população nunca tenha ouvido tal designação, actualmente muitos sabem que este termo significa redução no horário de trabalho, redução no salário e consequente instabilidade no emprego, e ameaça do futuro de famílias inteiras.

Outro termo talvez ainda mais estranho ao ouvido de todos nós é: Mobbing, mesmo que muitos já o sintam diariamente e sofram os efeitos que este pretende provocar. Mobbing, termo inglês associado a agressão, maus tratos ou ataque a alguém, são todos os actos, subtis ou não, ocorridos de forma sistemática e continua que no local de trabalho, não necessariamente na pessoa do patrão, são infligidos no funcionário de forma a humilhá-lo, frustrá-lo e impedi-lo de exercer as suas funções normais, com o objectivo de lhe provocar um mau estar insuportável e assim o afastar da empresa, fazendo com que seja o próprio a apresentar a demissão ou o pedido de reforma antecipado. Mobbing reflecte-se em comportamentos, dotados de agressividade física ou psicológica, ou situações de persecução que pretendem diminuir a auto-estima da vítima, bem como colocá-la numa posição onde dificilmente conseguirá defender-se. Exemplos disso podem ser acusações injustas de erros profissionais, rumores maldosos sobre a vítima, inutilidade das funções atribuídas ou desautorização. Algumas estratégias utilizadas passam por impedir o trabalhador de desempenhar as suas funções retirando-lhe o seu posto de trabalho como a secretária, o telefone, viatura da empresa e internet, isolando o funcionário, colocando-o por vezes numa sala vazia, separado da restante equipa de trabalho. O mobbed/vítima vai ficando cada vez mais debilitado e aterrorizado, resultado dos comportamentos hostis, ausentes do sentido de ética ou de justiça sofridos. Esta não é de todo uma situação nova, os primeiros estudos remontam ao inicio da década de 80 pela mão de um grupo de estudiosos liderado por Heinz Leymann e tem vindo a suscitar cada vez mais interesse na área do estudo do comportamento por se tratar de um fenómeno crescente, muitas vezes confundido com Bullying, apesar deste ultimo ser normalmente associado a uma faixa etária mais jovem e ao universo escolar. Outro termo relacionado é Bossing. Se Bullying significa agir com arrogância, Bossing significa chefiar com arrogância. Já Mobbing, ainda que semelhante por ser exercido no local de trabalho, destingue-se por poder ser praticado por um ou mais mobber/funcionários da mesma empresa, a um mobbed/vitima, com um cargo hierárquico inferior ou não, podendo inclusivamente o atacante ser um subalterno.

A realidade actual potencia enormemente esta situação: seja por parte da entidade patronal que quer ver os recursos humanos reduzidos sem os custos que a isso é obrigada; quer por parte dos colegas de trabalho, independentemente da semelhança das funções exercidas por cada um, que, motivados pelo receio de perder o seu posto de trabalho dão inicio a uma estratégia de destruição psicológica, profissional e social.

A vítima de Mobbing, no seu extremo, sente-se de tal forma debilitada que é atingida a todos os níveis: pessoal, afectivo, familiar, social e sobretudo psicológico, fruto do transtorno profissional vivenciado. Também a nível físico dão-se manifestações graves: stresse, alteração do sistema nervoso, ansiedade, perturbações a nível do sono e ou da alimentação, depressão, eczemas, erupções cutâneas ou tumores. Estas são algumas das reacções psicossomáticas a este fenómeno que apesar de tão grave, mantém-se praticamente inaudível tal a dificuldade em provar os acontecimentos a que a vítima é sujeita. Para tal muito contribuem os colegas, chamados de sighted mobber, que têm conhecimento da situação, presenciam alguns acontecimentos e no entanto mantêm-se indiferentes, não tomando nenhuma posição de defesa para com o colega, co-agindo assim com o agressor. O medo de represálias, a qualidade da posição hierárquica que ocupa, ou a afinidade que sente com o agressor, por também ele desejar “livrar-se” daquele colega como forma de manter o seu posto de trabalho, podem justificar este comportamento.

Também a lei portuguesa não especifica uma protecção jurídica para os trabalhadores vitimas de Mobbing ou Assédio Moral, apesar do Projecto de Lei nº 252/VIII de 2000 destinado à Protecção Laboral Contra o Terrorismo Psicológico ou Assédio Moral.

Perante tal situação de impunidade, o melhor será estar atento e tentar promover condições para que as situações vividas possam ser provadas.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

 

 

 

 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Gravidez


Engravidar é dos momentos mais bonitos que um ser humano pode experienciar, seja no papel de mãe ou de pai. É o resultado de um projecto muito bem pensado, de um sonho desejado toda uma vida e que finalmente se torna real quando se julga ter chegado a altura certa para a chegada de um novo ser ao seio familiar. Por isso se pode dizer que um bebé antes de vir ao mundo, antes mesmo de ser gerado, já existe no pensamento dos seus papás, sobretudo das mamãs que desde muito cedo projectam este acontecimento, chegando a escolher com vários anos de antecipação os nomes para os seus herdeiros. Não há quem não deseje ter um descendente, alguém com algo de si (o melhor de si preferencialmente), para dar continuidade à espécie. Para além disto, um filho é também, ou deve ser, o resultado do amor de um homem e de uma mulher, a materialização de uma relação que se pretende feliz e se espera duradoira. Parece que a decisão de engravidar, de escolher o momento certo é efectivamente o mais difícil. Quando a ideia se concretiza e o casal descobre que a mulher está grávida, dá-se uma mistura de emoções tão ricas e intensas como a nova fase de vivências que se inicia. A partir do momento da confirmação da gravidez a alegria confunde-se com a ansiedade, o orgulho com o sentimento de responsabilidade, a realização pessoal com o medo de não se ser capaz. Porque uma gravidez implica planificação de actividades, de carreiras, reorganização de ocupações e de tarefas, de vidas. Obriga a múltiplas mudanças, não só no quotidiano dos directamente responsáveis, os pais, mas muitas vezes também de quem os rodeia e que servirá de auxílio quando os progenitores não possam, como avós, tios e padrinhos. Durante o tempo de gestação o casal planeia, prepara, deseja e sonha. Sonha com o bebé e idealiza-o. E o resultado é o que em psicologia se chama: bebé imaginário. Começa a imaginar-se uma criança com traços físicos do pai, características psicológicas da mãe, mas sempre um filho bonito, educado, inteligente e saudável, e vai-se assim construindo a imagem da nova pessoa que vai chegar, com alguma margem de erro, não vá o filho trocar as voltas aos papás e ser a cara da mãe e o feitiozinho do avô paterno. Quando o bebé nasce bonito e saudável e se encaixa nos prognósticos feitos é o culminar do maior dos sonhos, a utopia tornada realidade. No entanto nem sempre este novo e inocente ser, que não pediu para nascer, se enquadra no que foi sonhado para ele, não preenchendo os critérios eleitos pelos progenitores. O choque que então se dá entre o bebé imaginário e o bebé real é por vezes tão violento que impede a natural aceitação por parte dos principais e únicos pilares desta criança indefesa. É para os mesmos considerado um fracasso, não só pessoal como familiar e social, o que origina um sentimento de culpa de tal ordem, responsável por grande parte das patologias associadas à gravidez e ao parto, sendo a mais conhecida de entre todas a depressão pós-parto.

Pergunte aqui, caso tenha duvidas, sobre:

Gravidez

Hábitos saudáveis durante a gravidez

Desconfortos na gravidez

Estratégias de alívio

Sinais de alarme

Parto

Trabalho de parto Plano de parto

Tipos de parto

Fases do trabalho de parto

Sinais de alerta para recorrer à maternidade

O que levar para a maternidade

Estratégias para alívio da dor

Papel do pai

Partilha de experiencias em grupo

Amamentação

Factores facilitadores da amamentação

Possíveis dificuldades

Estratégias de alívio

Recém-nascido

Características e competências do recém-nascido

Cuidados de higiene e conforto ao recém-nascido

Medidas de segurança

Puerpério

Cuidados de higiene e conforto no pós-parto

Hábitos saudáveis

Sinais de alarme

Vivência da sexualidade no pós-parto

Sílvia Silva - Psicologa Clinica

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Parkinson


No dia 11 de Abril comemora-se o dia Mundial do doente de Parkinson, por ser o dia de aniversário do primeiro médico a descrever um caso, em 1817, desta doença e por isso acabou por lhe dar o nome, o inglês James Parkinson.

Sem uma causa conhecida, a doença de Parkinson é no entanto a consequência da degeneração e morte celular dos neurónios responsáveis pela produção de dopamina no sistema nervoso central, fundamentalmente num local específico denominado substancia nigra. Uma vez que não se sabe ainda a verdadeira origem da doença, vão-se pondo várias hipóteses tais como o efeito da vitamina D, pequenos defeitos nas enzimas, factores ambientais como a poluição ou a (má) qualidade da alimentação. Ainda outra hipótese (forte) é a componente genética. Pensa-se que a Doença de Parkinson pode ser herdada entre familiares directos.
Por ser uma doença em que os sinais se podem confundir com os inerentes à velhice, é na maioria das vezes identificada em estado muito avançado, havendo por norma um elevado grau de negligência quanto aos sintomas cognitivos, apesar das queixas manifestas de tristeza e irritabilidade, sintomáticas de depressão e ansiedade. Alterações do humor, insónias e perca de olfacto, são outros dos sintomas. A dificuldade no processamento da informação leva a um desacerto entre o pensamento e a acção o que provoca pequenos acidentes domésticos inicialmente, e com o evoluir da situação, ocorrências que podem ter uma gravidade tal que leve à desmotivação, redução ou falta de iniciativa para efectuar tarefas ou qualquer tipo de actividades.  
As vitimas da doença de Parkinson, pessoas a partir dos 60 anos (são raros os casos de jovens portadores desta doença) começam por apresentar tremores musculares, acinesia, dificuldade em caminhar devido muito provavelmente tanto à rigidez dos músculos como à falta de equilíbrio ou uma instabilidade postural que vai aumentando. De forma sintética poder-se-á dizer que o facto de haver morte cerebral lenta e progressiva e o não rejuvenescimento de novas células neurais traduz-se num desfazamento entre o pensamento e a actividade motora. O elemento intelectual permanece intacto, ao passo que o físico não responde à informação que o doente de Parkinson pretende transmitir aos seus sentidos. Para alem destes sintomas, apresentam alterações da voz que se torna monotónica, devido à dificuldade em controlar os músculos da face e laringe e a dificuldade em engolir, também relativamente à postura há uma importante tendência à curvatura para a frente e quanto à escrita fica nitidamente disforme e imperceptível, com tendência a diminuir de tamanho. Qualquer que seja o sintoma começa por se manifestar nas extremidades e sobretudo de um dos lados do corpo, começando por exemplo no membro superior esquerdo, a seguir no membro inferior esquerdo, seguindo-se o membro superior direito e posteriormente o membro inferior direito, notando-se mais em tarefas com carácter específico como segurar algo, iniciar ou parar a marcha ou mudar de direcção. No combate à diminuição da qualidade de vida, aplicam-se os tratamentos até agora possíveis que têm sobretudo como principal objectivo restabelecer os níveis de dopamina. No entanto é ainda possível fazer uma intervenção cirúrgica tendo em vista a estimulação de núcleos como o globo pálido.

Assim, não tendo cura, a Parkinson tem alguns tratamentos que podem de alguma forma retardar os sintomas e adiar uma situação que se vai tornando cada vez mais incapacitante. No entanto, para além de todo o avanço da medicina, comprova-se que, o apoio familiar, a disponibilidade dos cuidadores informais, muitas vezes personificados por filhos, sobrinhos ou netos e sobretudo o afecto existente em redor dos padecentes de Parkinson é o que proporciona, pela motivação e estimulo, à qualidade de vida necessária ao retardamento dos principais sintomas.

Silvia Silva - Psicologa Clinica

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Dupla personalidade





Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Epilepsia



Por ser uma doença que apresenta um quadro, aquando das crises mais graves, que assusta e impressiona negativamente quem o assiste, a epilepsia tem sido desde sempre muito encoberta, no que diz respeito ao seu esclarecimento e a ela estão relacionados muitos mitos. Em Portugal estima-se que por cada mil habitantes, até sete pessoas podem sofrer de epilepsia. Podendo atingir qualquer pessoa e começar em qualquer idade, inicia-se sobretudo em jovens até aos vinte e cinco anos, sendo que setenta e cinco por cento acontece antes dos dezoito anos.

Trata-se de uma alteração na actividade eléctrica do cérebro que despoleta descargas neuronais, através de sinais eléctricos incorrectos decorrentes no cérebro. Manifesta-se através de crises convulsivas motoras, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas, que por norma duram poucos minutos. Podem ser crises parciais, simples ou complexas, sendo estas ultimas as mais conhecidas, pela sua intensidade, uma vez que, nestas circunstâncias, o individuo perde por completo a consciência, involuntariamente contrai a musculatura corporal ficando completamente hirto, podendo daí resultar movimentos desordenados e consequente queda violenta. Nestes casos a descarga envolve todo o cérebro, o paciente fica “ausente” e quando acorda não se lembra de nada do que aconteceu. Nesse período de tempo existe salivação em abundância, eliminação de fezes ou urina.

Para além de ser o órgão que controla todas as acções, desde os movimentos às emoções, passando pela memória e pensamentos, é também ao cérebro que cabe a tarefa de regular as funções dos restantes órgãos do corpo humano. Quando se dá um "curto-circuito" no cérebro, e parte ou todas as células se descarregam anormalmente, daí resultando um ataque epiléptico, isso compromete toda a actividade regular do indivíduo. Nas crises menos profundas a descarga limita-se a uma área cerebral e podem dar-se algumas alterações na percepção geral que podem reverter em discurso incoerente ou emoções como o medo. Assim, é fácil confundir convulsões febris, normais sobretudo em crianças, com epilepsia. Outras origens de crises podem ser choques eléctricos, deficiência de oxigénio, traumatismo craniano, avc’s, baixo nível de açúcar no sangue ou causas relacionadas com álcool, nomeadamente privação do mesmo, ou com drogas e medicamentos, mudanças súbitas de intensidade da luz ou luzes a piscar, privação de sono, cansaço e ansiedade.

Tal como nas convulsões febris, também nestes casos estamos perante situações isoladas e por isso não podemos concluir tratar-se da doença. Para que possa ser assim considerada, a epilepsia deve pronunciar-se por crises repetidas que aconteçam ao longo do tempo.

Desfazendo o mito que as principais causas da epilepsia se devem a aspectos genéticos ou hereditários (o que na realidade acontece mas numa percentagem pouco importante), há sim a ter em conta tumores, partos mal conduzidos, infecções graves ou meningites na proveniência da epilepsia.

 Desde a antiguidade considerados como demoníacos, lunáticos, maníacos ou doentes mentais, os epilépticos detiveram sobre si uma carga psicológica e social negativa que afasta os demais. Associado aos ataques epilépticos está um profundo estigma que provoca descriminação social e consequentemente no doente medo, ansiedade e isolamento. Para que essa barreira seja ultrapassada é importante haver informação sobre o que fazer perante uma crise. Então, a saber:

 

  • Proteja a cabeça da vítima com uma almofada e desaperte-lhe a roupa.
  • A pessoa poderá morder a própria língua, mas não irá engoli-la. Por isso, não lhe coloque objectos na boca nem tente puxar a língua para fora.
  • Deixe a vítima debater-se livremente. Coloque-a deitada em posição lateral para que a saliva escorra e a pessoa não se engasgue.
  • Mantenha-a em repouso no fim da convulsão. Deixe-a dormir.

  • Não deite água sobre a vítima, não lhe bata na cara e não tenha receio (a saliva de uma pessoa com epilepsia não transmite a doença). Não deve fazer massagem no coração ou respiração boca-a-boca.


Sílvia Silva - Psicologa Clínica

A importância de brincar


Tal como a alimentação, os bons hábitos de sono e a higiene, contribuem de igual modo para o bom desenvolvimento psicomotor da criança as actividades lúdicas, ou seja, a brincadeira. O tempo dos pais escasseia à medida que as exigências do mundo do trabalho aumentam. Um dia em que o pai tenha chatices no emprego e a mãe chegue tão cansada a casa que se limite a dar de comer aos filhos, dar-lhes banho e enfiá-los na cama é considerado normal e até rotina. Fica a faltar o estar com a criança, brincar com ela, trocar experiências perdendo-se assim entre outras coisas fontes de conhecimento mútuo. Os estudos apontam Portugal como o país da Europa em que os pais menos brincam com os seus filhos e apenas seis por cento das crianças portuguesas têm esse privilégio diariamente. A importância de brincar reflecte-se nas potencialidades e habilidades psicomotoras que os jogos lúdicos promovem através do exercício da imaginação e promovem o desenvolvimento das aptidões sociais, motoras, afectivas, cognitivas e da linguagem. Considera-se fundamental para o desenvolvimento harmonioso do jovem ser, que todos os dias pais e filhos brinquem juntos pelo menos algum tempo, em que a qualidade e entrega no mesmo seja a ter mais em conta do que a quantidade. Quando brincam no bairro ou no parque infantil os mais pequenos experienciam actividades ao ar livre e em grupo desenvolvendo com autonomia, capacidades lúdicas e sociais. A criança utiliza o brincar como meio de experimentar o mundo, percebe-lo, conhece-lo, descobrir como funciona e se desenvolve. É a sua forma de se preparar para dele fazer parte, ganhando através dessas experiências noções espaciais e sonoras e adquirindo a liberdade de tentar andar e falar, propiciando assim a natural evolução da sua locomoção e da fala. Com a aquisição da linguagem começam os jogos de imitação, as brincadeiras de faz-de-conta, as canções e as lengalengas, construindo uma base indispensável na futura aprendizagem da leitura e escrita. As formas de brincar vão-se alterando à medida que a criança cresce e as suas necessidades psicológicas e sociais a isso exigem. Manusear objectos, jogar, empilhar e explorar o mundo ainda que de forma primária refere-se à fase sensório-motora, que diz respeito à etapa inicial do desenvolvimento cognitivo. A criança precisa de treinar a organização do pensamento, a simbolização, e exprimir através da brincadeira e dos objectos que dela fazem parte, as suas necessidades, desejos, medos, experiências e sobretudo o que as magoa e atormenta. Utilizando a sua primeira forma de comunicação, para brincar a criança depende inicialmente do adulto para o conseguir fazer. Sobretudo com a mãe, pessoa mais próxima do bebé, começa por interagir com ela sorrindo e olhando-a e reagindo aos seus estímulos, demonstrando imediatamente a necessidade de brincar, mas também com o pai e restantes familiares, a criança estabelece elos de comunicação através de expressões não verbais, de manifestações que podem incluir a brincadeira. O atirar ao chão um objecto para o adulto o apanhar, repetindo-o vezes sem conta é uma estratégia que a criança encontrou para pôr o outro a brincar consigo. Quando monta e desmonta um brinquedo está a tentar percebe-lo, entender de que é feito e como é feito. E todas as vezes que não o consegue voltar a montar, a criança frustra-se e tenta de novo, vendo-se obrigada a arranjar estratégias novas para resolver o problema, explorando dessa forma o seu potencial intelectual. Um adulto que brinque assiduamente com o seu filho, estabelece assim uma forte ligação afectiva e intimidade com este. Começa a saber o que ele gosta, o que não gosta tanto, o que o incomoda ou o que o deixa deveras feliz. Quando inquiridas as crianças respondem que preferem brincar com os pais, fazer com estes actividades ao ar livre e utilizar brinquedos para ocupar os seus tempos livres, do que ver televisão ou jogar computador, ao contrário do que se poderia pensar. Estas últimas actividades surgem como preferidas em crianças que não têm hábitos de brincadeira com os pais, estando estes por regra, muito ocupados ou despendendo pouco tempo para com os filhos. Quando um pai ou mãe brinca com o seu filho está imperativamente a estimulá-lo, a dar-lhe atenção, a transmitir-lhe confiança, a interagir com ele, integrando-o deste modo no seu universo que é o mundo real. A aquisição da comunicação e o seu desenvolvimento dependem de factores como o afectivo, o social e o biológico. Neste ultimo destaca-se o processo de maturação do sistema nervoso central que é responsável por todo o desenvolvimento do indivíduo. Esse desenvolvimento influencia a brincadeira da mesma forma que a brincadeira influência o normal decorrer do desenvolvimento. Quando isso não acontece e a criança se vê privada de momentos lúdicos e do brincar, pode ter sérias repercussões tanto no seu estado psicológico, como físico ou social. O facto de não ter explorado o brincar promove insegurança, medos e isolamento social, que muitas vezes permanecem ao longo da vida.
 
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

 

 

 

sábado, 3 de agosto de 2013

Resiliência ou vontade de vencer



Que somos todos diferentes uns dos outros ninguém tem dúvida, da mesma forma, cada um de nós reage à mesma situação, à sua maneira. O que hoje lançamos como questão é porquê e como é que um mesmo episódeo pode desencadear reacções tão diversas, algumas vezes até opostas. Por exemplo, uma criança que recebe uma nota fraca num teste pode reagir negativamente, perdendo a vontade de estudar e ficando desmotivada, ou pelo contrário, a mesma nota insatisfatória pode ser ponto de partida para um estudo com maior afinco, uma vontade de se ultrapassar a si própria e de conseguir alcançar os objectivos. Quando perante as adversidades da vida o sujeito as consegue enfrentar e contornar, vencendo as dificuldades diz-se que se trata de Resiliência. O termo Resiliência, começou a ser usado em Física de Materiais que o descreve como a resistência do material a choques elevados e a capacidade de uma estrutura para absorver a energia cinética do meio sem se modificar. Existem pessoas, algumas conhecidas do grande público, que mesmo tendo tido inicios de vida bastante complicados e por vezes até crueis, “vão à luta” e conseguem “vencer na vida”. Outras, perante um problema menor, baixam os braços e sentem-se incapazes de vencer tal batalha. O que fará então determinar o modo como reagimos aos mais variados acontecimentos da vida? Apesar de já terem sido efectuados muitos estudos cientificos, não se pôde chegar a uma conclusão única, no entanto sabe-se que a auto estima elevada e a consciência que temos do nosso valor, é sempre uma importante base para o sucesso. Também as pessoas que nos rodeiam podem influenciar fortemente a nossa forma de estar e de pensar, inclusivamente o nosso auto conceito. Certo é que o mais importante será saber escolher de quem nos cercamos, e ter a assertividade de só querermos perto de nós pessoas que nos influenciem positivamente, que nos transmitam tranquilidade e segurança e afastarmo-nos de todas as que desdenham de nós, do nosso trabalho e que manifestem palavras de desagrado que nos incomodam. Somos nós os mentores da nossa felicidade, e por isso a mais niguém cabe as escolhas que reverterão a nosso favor e para nosso benificio . Também por isso é preciso acreditar e perceber que o nosso destino/futuro, ou boa parte dele, depende de nós e do que nós dele fizermos. Sonhar e traçar objectivos de vida é comum a todos os mortais, a grande diferença para obter o que tanto se deseja, reside no empenho e esforço que cada um deposita nas tarefas que o levarão ao alcance das metas pessoais. Há quem chame administrar emoções, a outro dos factores preponderantes para se ser resiliente. Passa por controlar os impulsos e manter a serenidade perante situações de stress. Se depois de avaliarmos calmamente uma situação e a ponderarmos sob todos os pontos de vista possiveis, concluirmos uma opinião então, devemos avançar uma reacção. Depreende-se assim que, mais que uma reacção negativa ou positiva, a resiliência reside provavelmente na pré-disposição negativa ou positiva. Ou seja, antes de reagirmos (que significa respondermos a alguém ou algo através de uma atitude), existe um intervalo de tempo que nos permite, nem sempre de forma consciente, tomarmos a decisão sobre a forma como vamos reagir ou responder à mesma. Cabe ao individuo definir, através da reflexão que faz sobre o rumo que quer dar à sua vida, e à sua forma de ser e estar, se pretende encarar positivamente os multiplos eventos quotidianos, o que não é mais que se pré-dispor a responder/reagir de forma optimista aos contratempos que lhe surgirem. Essa decisão permitir-lhe-à suavizar uma situação penosa, e aligeirá-la de forma a descobrir soluções para a vivenciar. Bem como tirar ilações das más experiências, analisá-las e perceber a importância que tiveram na sua vida e que processos transformadores e maturadores provocaram. Para tal é indissociavel a capacidade de construção positiva, a superação, a flexibilidade cognitiva e a capacidade de dar um novo significado aos problemas. Podemos considerar então que ser resiliente é ser cauteloso, pensar antes de agir, ter capacidade de reflexão , ter autonomia, assertividade, ética, discernimento, capacidade de relacionamento, mas sobretudo uma característica indispensável, a inteligência. Trata-se de, apesar das feridas e eventuais traumatismos, o sujeito os ultrapassar e se reestruturar mesmo estando exposto sucessiva ou acumuladamente a ambientes adversos, fazendo-o com o mínimo de disfuncionalidade para o seu desenvolvimento, agindo com equilíbrio na forma de pensar e de agir. Cria a partir daí condições de sobrevivência e cria igualmente uma estrutura física e psicológica envolta de alguma imunidade, que lhe permita adaptar-se às situações por mais imprevisiveis, e encontrar respostas favoraveis de resolução para cada uma delas.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Sobreendividamento



Apesar de existir muita discussão pública sobre o endividamento das famílias em Portugal, o problema continua a crescer. É por isso importante e urgente fazer um esforço para o conhecimento mais aprofundado do perfil dos devedores, dos credores e das rubricas de consumo.

Tomando como referência o Observatório de Endividamento dos Consumidores, entende-se por endividamento o saldo devedor de um agregado familiar, podendo resultar de um ou de vários compromissos de crédito, ou de dívidas de outra origem. No caso em que exista mais do que uma dívida em simultâneo, utiliza-se a expressão multiendividamento. O conceito de endividamento global é utilizado quando as dívidas de crédito se combinam com outras dívidas, como por exemplo, dívidas fiscais, já o sobreendividamento, resulta de uma impossibilidade definitiva e estrutural de o devedor fazer face ao conjunto das suas dívidas vencidas e/ou vincendas, e pode ser caracterizado segundo dois tipos, em função da responsabilidade do devedor na impossibilidade de pagamento. O sobre endividamento activo, quando o devedor contribui activamente para se colocar numa situação de impossibilidade de pagamento. Quando o impedimento de cumprir os compromissos financeiros é o resultado da ocorrência de circunstâncias não previsíveis e que afectam de forma grave a capacidade de reembolso do devedor (por exemplo divórcio, desemprego, doença ou morte de um elemento do agregado familiar, conjuntura económica desfavorável), falamos de sobre endividamento passivo.  

Se no passado os particulares tradicionalmente tinham baixos níveis de endividamento, ao longo da década de noventa, o endividamento registou um crescimento muito forte associado à descida das taxas de juro e a alterações na oferta por parte das instituições financeiras. O sobre endividamento dos particulares está normalmente associado a créditos pessoais (aquisição de bens e serviços; pagamento de dívidas anteriormente contraídas) e crédito habitação. Quanto ao perfil do devedor, a faixa etária que mais recorre ao crédito para consumo está entre os 31 e os 50 anos, seguindo-se os indivíduos com idades compreendidas entre os 21 e os 30 anos e por último entre os 51 e 60 anos. Em relação ao estado civil, predominam os casados, seguidos dos solteiros e viúvos. Os divorciados e separados judicialmente, assumem uma importância residual, o que naturalmente se prende com a instabilidade financeira usualmente associada a este estado civil.

Se a temática do endividamento crescente, suscita preocupação generalizada, veiculada em alertas patentes também na comunicação social, interrogamo-nos sobre como se situa a percepção dos indivíduos, uma das partes implicadas nesta questão, face ao descontrolo financeiro, ou fácil recorrência ao crédito. Será que se percebe a real associação entre crédito e endividamento? Será que se percebe a descomunal diferença entre se predispor a recorrer ao crédito apenas em situações de força maior ou para bens de mais alto valor, tais como habitação própria ou ainda viatura pessoal, ou por outro lado, uma orientação manifesta que se prende com razões mais banais, para fins materiais, sem justificação a não ser hedonista? Entenda-se que a intenção individual de recorrer ao crédito, resulta de uma atitude favorável a esta acção. As atitudes são uma “tendência psicológica” que traduzem uma avaliação favorável ou desfavorável relativa a algo. Assim, se a atitude é favorável ao referente crédito, o julgamento avaliativo é positivo e o risco ainda que percebido é notoriamente minimizado.

Uma avaliação que leve em conta as variáveis que vulnerabilizam a capacidade financeira (subida das taxas de juro, desemprego e precarização do trabalho, alteração na estrutura familiar ou dissolução da estrutura económica de suporte por divórcio, doença, ou morte de familiar) vai corresponder a uma consciente tomada de decisão.

Continua difícil acusar o responsável por este desgoverno social. Uns dirão que a comunicação social tem uma considerável quota-parte de culpa, outros dirão que a oferta é/foi excessiva e que é/foi de todo impossível não ceder à tentação. Os vendedores e credores dirão que ninguém é/foi obrigado a comprar ou a contrair empréstimos. Certo é que um individuo bem estruturado psicologicamente e consciente do contexto social e económico, tem muito menos probabilidade de incorrer em sobre endividamento, que outro, desestruturado, imaturo ou desinformado.

Esta incerteza, que nos dias de hoje assombra a grande maioria dos lares, poderia pelo menos servir para um maior acautelamento e ponderação antes de tomar uma atitude que irá levar a uma divida, sobretudo se esta não servir para suprir um bem de primeira necessidade. É aconselhável que antes de tomar em carteira qualquer crédito, se analise aprofundadamente as condições não só reais mas hipotéticas, que possam de alguma forma inviabilizar o cumprimento desse dever. 
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Depressão


Todos nós já ouvimos alguém à nossa volta dizer que se sente triste, que acha até que está deprimido. A depressão não é um estado passageiro, não se trata de um dia ou de uma semana em que estamos por um motivo ou outro mais em baixo, o que leva a uma variação de humor. Também não é um único afecto que pode definir o estado geral do indivíduo. A depressão é uma doença da mente, caracterizada por tristeza sim, mas mais que isso, manifesta-se de forma marcante ou prolongadamente. Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afectam de forma negativa. Ainda assim, uma pessoa com depressão não tem obrigatoriamente que estar a sofrer uma perturbação grave da sua estabilidade psicossocial, podendo antes encontrar-se a atravessar um período não só inevitável como necessário à sua evolução normal. Então o que podemos identificar como sintomas de depressão? Alterações de apetite e do sono; cansaço e perda de energia; sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima; sentimentos de culpa e de incapacidade; alterações da concentração; preocupação com o sentido da vida e com a morte; desinteresse, apatia e tristeza; alterações do desejo sexual; irritabilidade; lentificação das actividades físicas e mentais; chorar à-toa ou dificuldade em chorar; sensação de desesperança; dificuldade em terminar as coisas que começou ou sentimento de pena de si mesmo. Perante tais sintomas não podemos indicar uma justificação para que certas pessoas sejam mais susceptíveis que outras a ficarem deprimidas, pode no entanto dizer-se que existe antes de tudo uma predisposição no individuo para que tal aconteça, e que existem factores que podem influenciar o aparecimento e permanência de episódios depressivos, como situações ou condições de vida adversas: o divórcio, desemprego ou perda de um ente querido; aparecimento de doenças crónicas, infecciosas mentais ou hormonais, e o mesmo pode suceder com determinados medicamentos. Pessoas que já tiveram episódios de depressão ou história familiar de depressão, que coabitam com portadores de doenças graves ou têm empregos geradores de stress têm à partida maior propensão para despoletar casos depressivos. Sabe-se ainda que existe um número significativamente superior de mulheres e uma incidência nos períodos da adolescência, pós-parto, menopausa e velhice. No entanto atinge todas as faixas etárias e se não for tratada, a depressão pode ter como consequência o suicídio, resultante dos vinte por cento da população portuguesa afectada e que se reflecte em mais de 1200 mortes por ano. Por este motivo, determinar qual o factor ou os factores que desencadearam a crise depressiva pode ser importante, pois para o doente é indispensável aprender a lidar com esse factor por meio de tratamento. Uma em quatro pessoas em todo o mundo sofre de depressão e é esta a principal causa de incapacidades e a segunda de perda de anos de vida saudáveis entre as 107 doenças e problemas de saúde mais relevantes. Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos. Até que se faça o diagnóstico as pessoas vão encontrando explicações para o que lhes está a acontecer, julgando sempre ser um problema passageiro. A depressão pode ser episódica, recorrente ou crónica, e conduz à diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia e à perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis. Podendo durar de alguns meses a alguns anos, é indispensável pensar em procurar ajuda quando os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas.

Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Disturbios do Sono



Para conseguirmos levar a cabo as tarefas diárias que nos consomem energia, temos obrigatoriamente que ao fim de algum tempo nos recarregarmos e “encher o depósito que esvaziamos”, de maneira a voltarmos a estar prontos para novos ou repetidos desafios quotidianos. Algumas das recargas das quais falamos tratam-se da alimentação e do sono. Uma como outra, são indispensáveis ao bom funcionamento do ser humano, por serem restauradoras e reparadoras das necessidades básicas. No que respeita o sono, a necessidade varia de individuo para individuo. Existem pessoas para as quais quatro horas de sono são suficientes, mas existem aquelas que precisam no mínimo de nove horas para se sentirem repousadas. Também dependendo do horário de trabalho (turnos por exemplo), nem sempre é possível dormir no período mais provável (noite), nem à mesma hora ou a mesma quantidade de tempo. Quando o sono não se verifica ou é de fraca qualidade, assim como quando aparece durante o dia, insurgindo-se no meio das actividades diárias, quando o tempo total de sono é insuficiente ou é excessivo, dizemos que a pessoa sofre de Distúrbios do Sono ou Sonopatia. De origem biológica ou psicológica e resultantes do meio ambiente, estas perturbações podem ser várias, e de entre elas destacam-se: Apneia do sono (suspensão da respiração); Bruxismo (ranger os dentes); Pesadelos (sonho penoso); Narcolepsia (sonolência diurna excessiva); Terrores nocturnos (terror e gritos durante o sono); Sonambulismo (falar, sentar ou andar durante o sono); Jet lag (consequência de viagem e alteração de fusos horários); Síndrome das pernas inquietas (distúrbio neurológico que se manifesta por ardor e dor nas pernas) ou Insónia (dificuldade em iniciar o sono ou mantê-lo). Mas porque será o sono assim tão importante? Poder-se-ia pensar que quanto menos horas despendêssemos a dormir, mais tempo restaria disponível para efectuar todas as tarefas e obrigações do dia a dia. Errado. O sono serve para descansarmos, como foi dito: para recarregarmos energias, no fundo serve para estarmos acordados, motivados e interessados durante o dia. Por isso é necessário que da mesma forma, estejamos alerta e despertos durante o dia, para que à noite possamos dormir. Quando não dormimos ou dormimos mal começamos a ficar indispostos, cansados, irritados e indisponíveis para trabalharmos, estudarmos ou simplesmente estarmos com as pessoas que nos rodeiam, podendo inclusivamente chegarmos a ser agressivos. Um dos mais frequentes distúrbios do sono são as Insónias e manifestam-se não só pela dificuldade em adormecer mas também em manter o sono, havendo uma vigília intermitente ou um despertar matinal demasiado precoce. Quando algum problema surge na nossa vida, é normal que isso nos afecte ao ponto de transtornar o nosso sono. Bem como quando algo de importante está para acontecer e o evento nos deixa cheios de ansiedade, é provável que deixemos de dormir com a mesma tranquilidade. Nestas situações falamos de Insónias Transitórias ou de Curta Duração. Quando o problema se resolve ou o grande acontecimento passa, por norma este distúrbio desaparece. No entanto, quando isto não sucede num período até seis meses e as dificuldades em adormecer ou manter o sono persistem, passa a tratar-se de Insónia Crónica. A partir daqui o sofrimento é tal que a inevitabilidade do cair da noite e a consequente ida para a cama provocam um medo desesperador. Conseguir dormir transforma-se numa obsessão, num claro impedimento à qualidade de vida, reflectindo-se tanto nos relacionamentos como na vida social e obviamente resultando em problemas no trabalho e consequente e progressiva baixa de auto-estima. As limitações de sono prejudicam não só a nível mental como físico e a sensação de cansaço, dores de cabeça constantes, perdas de concentração e memória são sinais de debilidade do sistema imunitário que, por efeito, fica mais susceptível e atrito a doenças. A falta de sono reparador impede a regeneração natural da pele, as olheiras persistentes são disso prova e para além da iminência de ansiedade e depressão, os riscos de acidente estão na ordem dos 20%.

Dos três milhões de portugueses que sofrem de Distúrbios de sono, estima-se que na maioria dos casos a origem esteja no stress, doenças, toma de estimulantes e hábitos sociais inadequados. Assim, o tratamento pode passar pelo assimilar e pôr em prática de uma nova rotina, onde se incluem horas certas para deitar e levantar, bem como exercícios e técnicas de relaxamento. Embora existam situações que obriguem a toma de medicação, aconselha-se o acompanhamento psicoterapêutico, que funciona em 95% dos casos.
 
Silvia Silva - Psicologa Clínica

Sexualidade na adolescência


A adolescência é sem duvida a fase mais complexa na vida de qualquer pessoa, por ser o período do desenvolvimento que marca a passagem da infância para a idade adulta. Com a puberdade o corpo sofre grandes mudanças e transformações biológicas, tanto na alteração de tamanho e formas do corpo, como na maturação dos órgãos sexuais, coincidindo com a menstruação nas raparigas e com a primeira ejaculação nos rapazes. É também na adolescência que se desperta para a sexualidade, podendo demorar mais ou menos tempo, o certo é que acaba por acontecer e se conhecerem novas sensações como o desejo e o prazer. Começam, rapazes e raparigas, a tomar consciência de si próprios e do que os diferencia. Nesta altura os grupos começam a definir-se como mono-sexuais, ou seja, só constituídos por rapazes, ou só por raparigas, criando situações de hostilidade mas ao mesmo tempo de jogo de provocação e sedução entre eles. É como se houvesse um período em que se torna interiormente muito importante mostrar de forma explicita, a si mesmo e aos outros, que se pertence a um sexo bem definido, com características muito específicas e opostas ao outro sexo. Mas sexualidade e sexo não são a mesma coisa. Sexualidade é uma energia que se expressa pela interacção de factores biológicos, psicológicos, sociais, económicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais, através do desejo de contacto, da ternura e também do amor e se desenvolve à medida que os estágios evolutivos se vão ultrapassando, desde a infância, quando nascem os primeiros sinais sexuais, com a procura de prazer centrada nas zonas erógenas do corpo, até à terceira e ultima idade. Sexualidade abrange sexo, identidade e papéis do género, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução, e pode ser experienciada e expressada em: pensamentos, fantasias, desejos, opiniões, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. O termo sexo, usualmente é utilizado para traduzir “actividade sexual”, no entanto tem a ver com as características biológicas que definem os seres humanos como homem ou mulher, independentemente das suas características psicológicas ou sociais.

O despertar para a sexualidade expressa-se de muitas maneiras: na forma de vestir; no que se pensa; no que se diz; no tipo de música que se ouve e até a forma como se dança são manifestações de sexualidade. É este também o tempo das primeiras paixões arrebatadoras e únicas, dos amores que se julgam eternos. É altura de amar e ser amado, de querer fazer boa figura entre os amigos, porque é esta a fase da vida em que o mais importante é, sendo único, ser igual aos pares. Ainda assim as alterações corporais são vivenciadas de forma diferente de jovem para jovem, e o mais natural é surgir algum desconforto com o “novo” corpo, e até intimidação perante tantas mudanças, podendo daí resultar sentimentos de vergonha, timidez, pudor e até ansiedade, tanto em casa, junto dos pais e dos irmãos, como na escola, junto dos colegas. Por outro lado as hormonas que são responsáveis por estas modificações, produzem um acentuado aumento do desejo sexual e das sensações eróticas e é a partir desta fase que se vai desenvolver a resposta sexual adulta. Começa-se a ouvir os amigos a falar das suas experiências e isso faz com que haja a tentação de também passar pelo mesmo. Às vezes é o próprio namorado ou namorada que pressiona a ir mais longe nos afectos e isso acontece a 73% das raparigas e 50% aos rapazes, o que significa que a grande maioria dos jovens perde a virgindade sem realmente o desejar. O importante é antes de tudo parar e pensar sobre o conhecimento que se tem do próprio corpo e sobre a sexualidade, porque a sexualidade é uma aventura fantástica, mas para isso tem que ser o produto de uma vontade pensada e amadurecida. Agora se acontecer por acaso, sem pensar, ou para não ficar atrás dos amigos, os riscos aumentam. Atitudes impensadas podem resultar em gravidezes indesejadas, em arrependimentos irrecuperáveis, mas pior que isso, em doenças sexualmente transmissíveis não havendo depois muito a fazer. Outro comportamento importante em alguns dos rapazes e raparigas adolescentes é a masturbação, que funciona como uma descoberta do corpo e de novas sensações. Pode ser vivida com um misto de prazer e de curiosidade, mas também com muitas dúvidas ou culpa, dados os comentários negativos ou o silêncio dos adultos. Então qual será a idade da “primeira vez”, como saber se se está pronto? O início da vida sexual não tem data marcada nem pode ter, deve unicamente ser acompanhada por razões válidas que passem obviamente pela maturidade. Então se há dúvidas, medos e indecisões, estes são pelo menos indicadores de que não se está pronto. Antes de mais é preciso estar-se informado, esclarecer todas as questões para depois se poder decidir em consciência, tendo sempre presente que contra tudo e todos, se se sente que ainda não chegou o momento e não se quer, o melhor mesmo é dizer NÃO.



Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Cancro infantil



Enquanto a medicina tem na oncologia pediátrica a área que se consagra a estudar o cancro infantil, a psico-oncologia pediátrica, dentro da psicologia da saúde, estuda a influência de factores psicológicos na manifestação e desenvolvimento do cancro infantil. Mas o cancro não é uma doença física? É! Então poderemos nós influenciar o seu desenvolvimento através das nossas atitudes? Podemos! “Que podemos esperar de um doente pessimista, que é examinado por um médico pessimista, com atitude negativa ou de fuga em relação ao cancro?”. Provavelmente muito pouco e é por isso que interessa aprofundar a questão da “atitude” e perceber se, após a recepção da notícia por parte não só da criança, mas também dos pais e posterior tomada de decisão sobre como agir perante a situação, tal facto se repercute correspondentemente nas respostas imunológicas da criança, ou seja, se uma atitude positiva por parte dos pais da criança à qual foi diagnosticado o cancro, resulta num factor determinante para a melhoria sintomática e evolução positiva, no sentido da cura. Mais que uma defesa, a atitude positiva é uma estratégia de coping, se considerarmos que é o caminho encontrado conscientemente pelos pais para se adaptarem a circunstâncias adversas e/ou stressantes através de um planeamento, um traçar de objectivos tendo em conta a situação apresentada. Ter atitude positiva é reconhecer as limitações nas situações, acreditando ao mesmo tempo que as oportunidades também existem. Considerando o comportamento parental resultante do tipo de atitude escolhida, realçamos que, o conhecimento dos pais do teor da doença prévio ao diagnóstico; a forma como a transmissão do mesmo é feita pelo profissional de saúde; o estado psicológico em que a criança e os pais se encontram nesse momento; o tipo de personalidades dos pais e da criança antes da doença; a relação existente entre os pais e entre os pais e a criança, e a idade e compreensão cognitiva desta no momento do diagnóstico, são alguns dos factores psicológicos que irão determinar o apoio dos pais no acompanhamento de uma criança com cancro. E considerando este suporte sem dúvida alguma fulcral, importa ter ainda em conta as crenças, os sentimentos, as opiniões, as condutas e condições sociais, e a estrutura familiar. As complexas situações pessoais, médicas e terapêuticas com que os pacientes se deparam, fazem-nos mais susceptíveis ao desenvolvimento de problemas e complicações emocionais e uma franca diminuição na sua qualidade de vida, com implicações físicas, psicológicas, familiares, económicas e sociais entre outras. O contexto em que a criança se encontra habitualmente, o seu meio ambiente e entourage familiar, escolar, de amizade, assim como o seu quotidiano e rotinas serão, a partir do preciso momento em que os pais tomam conhecimento do estado de saúde do seu filho, completa e drasticamente alterados, sendo muitas vezes irrecuperáveis. É de fácil percepção a raridade de instituições hospitalares preparadas convenientemente para receber uma criança com cancro. O pessoal auxiliar não tem formação ou treino para oferecer uma atenção integral, tão pouco uma resposta adequada às possíveis e prováveis complicações advindas dos tratamentos, por falta de conhecimentos básicos de oncologia e psico-oncologia pediátrica. É imprescindível esse conhecimento, assim como o de cada uma das etapas do padecimento, para diminuir a ansiedade da criança e dos pais e assim favorecer a aderência ao tratamento, o que levará a resultados comprovadamente mais eficazes. A juntar a isto, deve ser utilizada uma linguagem fácil e acessível que permita à criança compreender o que se passa consigo, bem como fornecida toda a informação correspondente, quer ao estado de saúde em que se encontra, quer ao que se avizinha, cuidando para que as explicações dadas não contenham pormenores desnecessários ou informação excessiva, bastando clarificar as dúvidas dos pais e paciente, para que estas não gerem ansiedade, medos e consequente indisponibilidade física e psicológica (atitude negativa) aos tratamentos imperativamente propostos. Sabemos que o medo; a ignorância e a negligência são os grandes aliados da doença oncológica e que a reacção a estes factores determina a atitude e o comportamento do público. Sabemos pelo menos que as acções dos pais são exemplos nos filhos, assim, julgamos um forte indicador de que, havendo uma atitude positiva nos pais, a criança padecente de cancro, tenha ela também uma atitude positiva e suas consequências, também elas positivas. “Curar o doente oncológico é mais que remover, cirurgicamente, a doença; tratar o doente é mais que administrar drogas ou radiações. O doente só fica verdadeiramente livre de sintomas, quando sejam igualmente, erradicado o medo, o desespero, a perda de dignidade e a perda de confiança e fé.”


Silvia Silva - Psicologa Clínica

Bem estar


Na sociedade actual onde a juventude é endeusada em detrimento da velhice, é importante antes de tudo estarmos bem para nos sentirmos melhor. O conceito é relativo, o que é estar bem? Provavelmente será: ter qualidade de vida. Isto passa pela percepção do indivíduo tanto da sua posição na vida, como no contexto da cultura e no sistema de valores em que se insere, tanto quanto em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações. Este conceito é afectado de um modo complexo pela saúde, pelas relações sociais, pelo nível de independência e pela aceitação do que se apresenta como mais relevante no seu meio ambiente. Qualidade de vida é um termo empregado para descrever a qualidade das condições de vida levando em consideração factores como saúde, educação, bem-estar físico, psicológico, emocional e mental. A qualidade de vida envolve também elementos não relacionados, como a família, amigos, emprego ou outras circunstâncias da vida. É o nosso estado de equilíbrio físico e psicológico o motor que propulsiona a nossa eficácia pessoal e social e será por aí o caminho que nos leve ao bem-estar pessoal. Por sermos seres vivos que não têm um historial de isolamento, mas antes de uma sociabilidade que passa por todos os estados e muitas vezes num extremo pelo desfile de vaidades, constatamos que, mesmo não pertencendo à grande maioria que enaltece o fútil e subestima o enraizamento de valores, continua a ser importante a imagem. Mas que imagem? A que temos de nós próprios que se encerra em nós e que resulta de tudo quanto somos enquanto pessoas, ou a que passamos aos outros? Não estarão elas interligadas? Antigo é o ditado que diz que se eu não gostar de mim, ninguém gostará. Logo, é importante que a imagem que fazemos de nós mesmos seja positiva. É o mesmo que dizermos que temos uma boa auto-estima. A auto-estima é a avaliação que cada um faz de si mesmo e que pode alterar, dependendo de múltiplas variáveis, pessoais e sociais. Há, apesar de tudo nessa linha oscilante o tal equilíbrio de que tantos necessitamos para estarmos bem. Daí se conclui que tudo o que fugir ao equilíbrio, pode destabilizar e até descambar, chegando a atingir estados depressivos crónicos. A disponibilidade que temos para com os outros e que é efeito da forma mais ou menos afirmativa com que nos processamos e resolvemos, é a chave para o bom entendimento com o outro. Infelizmente a vida moderna cria-nos demasiado stress e problemas que nem sempre libertamos e isso acabará por se reflectir mais tarde ou mais cedo na nossa saúde e no nosso bem-estar. O mais difícil é sem dúvida, nos descomplicarmos, educarmos e regrarmos a nós próprios. Percebemos assim que há que prevenir, há que ter atenção e nos disponibilizarmos a cuidar de nós. O que acontece é que, mesmo que tomemos a decisão de passarmos a cuidar de nós, deparamo-nos com alguns obstáculos como a falta de tempo, provocada por uma vida agitada, que nos remete constantemente a tomar decisões e a abdicar de determinadas actividades em detrimento de outras. Acabamos frequentemente por verificar que nessas escolhas ficámos longe das nossas próprias prioridades. Outra condicionante é a falta de dinheiro para realizar tratamentos que se apresentam como ideais, uma resposta perfeita às nossas necessidades mas absolutamente fora de alcance. A Saúde e o Bem-estar para além de nascerem com a pessoa podem ser grandemente melhorados se a pessoa tiver informação acerca do que fazer para o conseguir. A vida só vale a pena ser vivida se tivermos saúde e nos sentirmos bem, pelo que a prevenção tem aí um grande papel a desempenhar. A prevenção é metade do tratamento, por isso tenha a certeza que está tudo bem consigo, para poder manter o seu bem-estar.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica