sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Síndrome de Burnout


A dinâmica do mundo moderno favoreceu o aparecimento de muitas doenças e transtornos mentais, em especial no ambiente de trabalho. Para além da selva em que o mercado de trabalho se transformou e o esforço que cada um de nós tem que fazer para manter o seu emprego, a própria sociedade consumista que privilegia os cargos ou postos ocupados, acaba por avaliar os indivíduos pelas profissões que cada um possui.

O Síndrome de Burnout é um fenómeno psicossocial directamente relacionado com o mundo laboral e refere-se a uma reacção ao estado de exaustão e diminuição de interesse relativo ao trabalho, em que, o que a este diz respeito deixa de ter importância e qualquer esforço pessoal parece ser inútil. Trata-se de uma fadiga extrema que resulta de uma tensão emocional crónica associado a um período de esforço excessivo com intervalos demasiadamente curtos para recuperação. Burnout é um termo inglês: burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de stresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Alguns dos factores agregados ao Síndrome de Burnout podem ser dificuldades de relacionamento com chefes, colegas ou clientes, conflitos entre trabalho e família, pouca autonomia no desempenho profissional, sentimento de desqualificação ou de falta de cooperação em equipa. Esta síndrome é uma das consequências mais marcantes do stresse profissional e caracteriza-se não só por exaustão emocional, mas também por avaliação negativa de si mesmo, depressão e uma despersonalização que leva à insensibilidade com relação ao que o rodeia. Estes sintomas emocionais podem transformar-se em problemas físicos como fadiga crónica, dores de cabeça, insónias, úlceras gástricas, hipertensão arterial, taquicardia, arritmia, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias e lapsos de memória. E também em alterações dos hábitos: maior consumo de café, álcool e medicamentos, faltas no trabalho, impaciência, sentimentos de impotência, incapacidade de concentração e baixa tolerância à frustração. Em extremo podem ter comportamentos paranóicos tais como agressividade ou tentativas de suicidio. As pessoas que na sua vida têm profissões predominantemente relacionadas a um contacto interpessoal mais exigente, com frequentes e intensas interacções, emocionalmente densas, tais como médicos; enfermeiros; assistentes sociais; funcionários públicos, polícias ou bombeiros e todos os profissionais que interagem de forma activa com pessoas, que cuidam ou solucionam problemas das mesmas e de quem se espera uma atitude, no mínimo solidária, têm uma maior propensão a serem atingidas por este problema. Não há nada mais desgastante e consumidor de energia humana do que os conflitos, tanto internos como externos. Apesar disso, a solução não pode passar pelo isolamento e a evitação do contacto com os outros para prevenir conflitos, porque tal atitude pode causar o sentimento de solidão. As pessoas padecentes de Burnout são os chamados: excelentes funcionários. São pessoas extremamente dedicadas às instituições que representam, que fazem imensas horas extra para respeitar prazos, são pessoas altamente motivadas e exigentes consigo e com os outros, perfeccionistas e rígidas. No entanto estar envolvido em relacionamentos, tarefas e ambientes carregados de stresse por uma quantidade de tempo superior ao que cada um pode suportar ou consegue lidar pode transformar a pessoa em uma espécie de autómato. As características de humanização e ajuda vão decrescendo, revelando-se em demonstrações grosseiras e negativas para com as pessoas com quem lida no local de trabalho podendo estender-se ao contexto particular. O que acontece é que para não entrar em colapso a pessoa passa a agir automaticamente sem qualquer envolvimento emocional, o que resulta desastroso na produtividade e no clima organizacional. É importante perceber que Síndrome de Burnout não é o mesmo que depressão ou simples stresse. Enquanto nos depressivos percebe-se uma maior apatia e sentimentos de culpa e perda, quem sofre de Síndrome de Burnout caracteriza-se sobretudo por desapontamento, cansaço e tristeza, perfeitamente identificado e associados ao trabalho.

Como forma de contornar este problema há que, antes de mais, admitir que algo não está bem consigo mesmo, sobretudo se identifica vários dos sintomas aqui descritos e perceber que o problema ainda que tenha partido de outro/s passou a fazer parte de si. Assim deixam-se algumas sugestões de estratégias para lidar com o stresse: a) Realizar actividades de relaxamento; b) Organizar o tempo e decidir quais são as prioridades; c) Manter uma dieta equilibrada e fazer exercício físico; d) Discutir os problemas com os colegas de profissão; e) Promover acções de formação sobre gestão de conflitos.

Em casos extremos, aconselha-se a ajuda profissional.
 Sílvia Silva – Psicóloga Clínica

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Jovens violentos


A violência na adolescência é cada vez mais comum, tornando por isso também cada vez mais comuns as noticias quase diárias de crianças e adolescentes que sofrem ou sofreram bullying. A partir daí muito se tem dito, estudado e feito para perceber o bullying e as suas vítimas. O perfil das vítimas, os traumas que ficam, como lidar com as consequências dos que sofrem às mãos de adolescentes agressivos que para se exibirem ou se armarem em fortes transformam a vida de alguém sem se darem conta de tal.

Então e os agressores? Os tais jovens violentos que gozam, criticam, humilham, batem e magoam os outros… será que são menos vítimas?

Cientificamente consegue-se perceber que a agressividade está directamente ligada à imaturidade. Tanto à imaturidade física, no que diz respeito às estruturas do cérebro, como à imaturidade psicológica, no que diz respeito aos comportamentos e atitudes.

Dito de outro modo, sabemos que uma criança ou jovem que não foi exposto a desafios ou frustrações suficientes, não desenvolve estratégias de resolução de problemas. A super proteção familiar, a permissividade e a rápida cedência às exigências dos mais novos, fá-los acreditar que a vida é muito mais fácil do que os adultos querem fazê-los acreditar. Jovens que não sejam contrariados, que não pensem pela sua própria cabeça ou que não tenham consequências dos seus actos irreflectidos consideram que não têm que se esforçar, porque da maneira como agem a vida corre-lhes bem.

Este contexto contribui para a imaturidade psicológica, para a dificuldade em resolver problemas diários e até mesmo pequenos conflitos. A nível físico (da estrutura do cérebro) as células trabalham pouco e portanto não se desenvolvem. Quando a nível cerebral as estruturas são imaturas, perante uma adversidade, será difícil responder de forma madura e ponderada.

A nível social encontram-se ainda outras respostas para a agressividade nos jovens. A necessidade de se integrarem num grupo, de serem reconhecidos pelos seus pares e de eles próprios não serem uma vez mais excluídos (quando em grande parte dos casos o são no seu seio familiar) pode explicar este tipo de atitudes.

Se considerarmos que os jovens nos dias de hoje são mais imaturos a todos os níveis, porque os pais têm cada vez menos autoridade, estão cada vez mais frágeis, com maior dificuldade em contrariar, em dizer não e em exigir-lhes o cumprimento de tarefas simples, é natural que estes mesmos jovens tenham mais tendência para serem agressivos.

Para que essa agressividade seja clínicamente diagnosticada como uma patologia é necessário que o jovem responda a determinadas características ou critérios que serão avaliados pelo profissional (psicólogo clínico) em contexto terapêutico.

É no entanto muito importante compreender o histórico de vida desse jovem, perceber o seu contexto familiar e social para poder ir ao seu encontro.

Isto não invalida de modo algum que o jovem seja responsabilizado pelos seus actos, mas mais que o considerar como um caso perdido há que o ouvir e entender que quando um jovem agride, mais do que fazê-lo por maldade fá-lo na maioria das vezes porque sofre, porque não tem apoio, não tem mimo, não tem orientação e precisa de deitar cá para fora essa mágoa.

 

Sílvia Silva - Psicologa Clinica

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Fotografia




A memória é talvez das áreas do cérebro que mais determinam a personalidade. Aparentemente não terão tanta importância como a coordenação de movimentos ou a área de raciocínio matemático no entanto é a memória que nos permite armazenar conhecimento e evita que se repitam todas as aprendizagens. A cada dado novo, cada informação, contará como um acrescento à base já existente no cérebro e em conjunto com o já aprendido terá uma outra recepção e um outro entendimento. O cérebro funciona como as gavetas da cómoda lá de casa, as gavetas que menos utilizamos acabamos por esquece-las. Assim vejamos, quando guardamos roupas de inverno e passamos todo o verão sem as usar, quando começa novamente a fazer frio e vamos procurar o que guardamos hà tanto tempo, às vezes temos verdadeiras surpresas, como se nunca tivéssemos tido aqueles artigos, porque simplesmente nem nos lembramos. No entanto as peças que mais utilizamos, relógio de pulso por exemplo, parecem quase fazer parte de nós, nunca nos esquecemos e não passamos sem elas. São as situações mais vivas no nosso cérebro que determinam de algum modo a nossa personalidade.

As fotografias que tendemos a tirar sobretudo na infância recente dos nossos filhos, são ferramentas essenciais na construção do carácter dos mesmos. As lembranças gravadas nas fotografias contam histórias, a história de uma criança que à medida que cresce vai preenchendo as lacunas da memória com provas físicas (fotografias) da sua existência. A capacidade de memorização no ser humano dá-se desde a nascença, no entanto as primeiras memórias são tão ténues que só passam a efectivas quando constantemente estimuladas, seja com discursos relacionados ou com fotografias comprovativas daqueles momentos.

A imagem projectada numa fotografia diz muito do indivíduo. Não tendo palavras, a linguagem corporal ajuda-nos a identificar á posteriori que tipo de emoções e sentimentos estaríamos a experimentar no momento do clic. Ajuda-nos por isso a conhecermo-nos melhor a perceber o nosso percurso, a definir a nossa história. As fotografias são então importantes ao ponto de contribuir para a auto-estima, rever-se tem até o poder de alterar sentimentos, isso acontece quando estamos muito tristes e revemos fotografias de momentos muito alegres e simpáticos.

Quando vemos um álbum e não constam fotografias de uma determinada altura da vida, parece que temos um sentimento de vazio. O comprovativo do nosso percurso é sem dúvida fundamental para nos sentirmos mais confiantes e seguros, não só do que somos, mas do que vivemos e ajudou a definir a pessoa em que nos tornamos.

 
Sílvia Silva - Psicologa Clinica

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Filhos do divórcio


A tradição já não é o que era e as alterações que a sociedade vai sofrendo revelam-se também na constituição das famílias. As crianças filhas de pais separados deixaram de ser apontadas, tudo porque deixaram de ser “raras”. Hoje as famílias mono parentais representam uma faixa importante da população e uma em cada quatro crianças é filha de pais separados. Um número que podemos considerar fictício pois não contempla nenhuma união não civil. A questão é: quais as repercussões de tais mudanças? Por um lado estas metamorfoses vêm criar a necessidade de compensação parental, o que favorece um crescimento infantil num registo perfeitamente omnipotente. Situações de divórcio provocam nos pais sentimentos de culpa que despoletam a compensação material. Ou seja, perante uma evidente falha cometida pelos progenitores, no que se refere ao desmembramento da família, os pais tentam consertar esse “erro” com outro. A criança percebe e manipula de modo a atingir os seus mais breves caprichos. Sabe-se que a falta de coerência (inconstância de critérios); a falta de consistência (força infantil sobre a fraqueza parental, ainda que agora digam “não” perante a insistência da criança acabam por dizer “sim”) e a falta de continuidade parentais (ausência de postura educativa, que passa por períodos de firmeza intercalados com outros de permissividade) são propriedades fundamentais ao registo de patologia infantil. Com a desculpa de “para que não fiquem traumatizados” é-lhes cedido, permitido e oferecido tudo. A demissão dos pais enquanto educadores, optando pelo facilitismo, o que de alguma forma lhes diminui a culpa, pode repercutir-se num egocentrismo infantil, que gera uma espécie de pequenos ditadores sem regras, que não têm noção dos limites, a que os pais dizem não ter mão. Por outro lado a dificuldade dos adultos em aceitar um processo de separação pode fazer com que a criança passe a ser um joguete no meio da guerra que se cria. Provavelmente o mais doloroso para os filhos de um divórcio será terem de desistir de um dos pais dentro do seu coração e abdicar de uma parte de si mesmos. Nas lutas entre ex-conjuges é frequente a utilização e manipulação da criança para magoar o outro. Trata-se de Síndrome de Alienação Parental (S.A.P.) e é um transtorno pelo qual um progenitor transforma a consciência do seu filho, mediante vários ardis, com objectivo de impedir, ocultar e destruir os vínculos existentes com o outro progenitor, levando-o a ter apenas sentimentos negativos para com ele. Surge principalmente no contexto da disputa da guarda e custódia das crianças, e o seu promotor ou agente, o progenitor alienador, na maior parte dos casos, é o que tem a seu cargo a custódia legal dos filhos. Os estratagemas consistem em tentativas de minimizar o contacto com o outro, impedindo o contacto telefónico ou físico, na expectativa que a criança se desiluda, fique magoada e pense que o progenitor alienado não se preocupa com ela. Estas lavagens cerebrais pautadas por campanhas anti-ex-conjuge fomentam o desprezo e ódio da criança por um dos pais e pelo outro lado o medo de perda e dependência psicológica. Este tipo de posturas educativas: quer a compensação parental quer o S.A.P., provocam inúmeros transtornos e sequelas nas crianças. É importante reflectir e perceber que a vinda de um filho tem que ser associada a um projecto parental educativo e que este novo ser, é alguém muito importante e independente dos pais, que por eles deve ser encaminhado e amado e nunca utilizado em benefício próprio. Como diria Pedro Strecht um dos papéis mais importantes dos pais é o de ajudarem os filhos a crescer, mas para isso é preciso saber ser crescido.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As crianças e as novas técnologias


Independentemente de se gostar muito ou pouco, o que é facto é que as antigas brincadeiras de miudos pertencem definitivamente ao passado. O jogar ao berlinde, à macaca, às escondidas ou à apanhada deixaram de fazer parte do quotidiano dos nossos filhos. A pouco e pouco a técnologia foi-se instalando e actualmente é impossivel dispensarmo-la. A televisão há muito que nos vicia a todos. E se inicialmente as crianças tinham pouco acesso porque nos lares havia quanto muito um aparelho, sobretudo destinado ao lazer dos mais velhos, agora não é raro que hajam pelo menos dois ou três televisores por casa, em que no minimo um se destina total e exclusivamente aos mais pequenos.

Os carros comandados, os pequenos jogos electronicos portateis ou os walkman’s seguiram-se nesta evolução sem no entanto criar a dependencia verificada hoje.

Os jogos de computador foram aparecendo e sendo inseridos no dia a dia dos mais pequenos. A densa e complexa máquina de marketing aliada à melhoria de condições económicas por parte dos pais, fez com que estes satisfizessem os caprichos dos filhos, criando assim um efeito de causa consequencia, justificado ainda pelo aumento de horas de trabalho nos empregos, principalmente para as mulheres que deixaram de acompanhar a educação das crianças a tempo inteiro, resultando na sua pouca disponibilidade e na necessidade de manterem as crianças ocupadas de uma forma agradavel, tranquilizando os pais por considerarem que, de alguma forma, as estavam a compensar.

A televisão, tal como os jogos de computador, não tem que ser, ou pelo menos não deve ser encarada como mau ou prejudicial. O que torna qualquer tecnologia pouco benéfica é o seu uso excessivo, que por um lado potencia sentimentos de agressividade, competição a qualquer custo e dificuldades de partilha e por outro inibe processamentos de pensamento, capacidade de criação, para além de aumentar o sedentarismo. Hoje sabe-se que a percentagem de sedentarismo relacionada com a utilização de tecnologias ronda os 73% nas crianças.

A responsabilidade de grande parte desta percentagem pode atribuir-se à internet.

A partir dos 6 anos, com a entrada no mundo escolar inicia-se também o interesse pelas tecnologias que permitam maior conhecimento. Uma vez mais não será a internet uma ameaça por si só, mas sim o que a ela está directa ou indirectamente ligado. É urgente que os pais enquanto educadores entendam que como em qualquer nova aventura, as crianças a podem viver mas sempre com acompanhamento e atenção. É preciso serem-lhes ensinados os limites, as regras e assim o controle que progressivamente poderão autonomamente adquirir. O tempo máximo de utilização, a forma como o fazem, o que podem e não podem, são itens intransponiveis. Se os pais estiverem por perto, para além de controlarem e ajudarem na navegação, podem igualmente participar jogando ou dando dicas. Quando esta tecnologia é utilizada como meio de estudo, pode ser efectivamente um auxiliar educativo de excelencia tanto na navegação, como sempre que são utilizados softwares educativos com incidencia por exemplo no desenvolvimento do raciocinio lógico-matemático.

Mas para isso é indispensavel que os pais se envolvam, estejam a par e percebam que funcionalidades e objectivos têm cada um dos brinquedos, jogos ou outros recursos tecnologicos que as crianças utilizem e sejam peça fundamental nessa selecção.

Alguns brinquedos, como por exemplo o tamagotchi, auferem à criança um sentido de responsabilidade, preocupação e controlo que lhes aumenta as potencialidades humanas. O facto das novas tecnologias poderem facilitar a comunicação e deitar por terra barreiras fisicas é um dos principais pontos positivos a elas relacionado, sobretudo se pensarmos nas crianças com deficiencias fisicas. A utilização das novas tecnologias permite-lhes estar e se sentir no mesmo patamar que as outras crianças oferecendo-lhes um novo sentimento de igualdade, e o serem estimuladas permite o aparecimento de outras potencialidades. Desta forma poderão aprender ao seu ritmo, contrariando um possivel insucesso escolar.

Principais riscos na internet:

Invasão de privacidade; Assédio e solicitações online; Cyberbullying; Sites agressivos ou de conteúdo inapropriado; Sites que incentivam o suicídio



Dicas para consultar:

Pais e Filhos na Internet –Um guia para uma navegação segura”; Links e Recursos propostos pela American Academy of Pediatrics; Growing Up Online

NetSmartz; Childnet International




Tenha também em conta que os dispositivos de bloqueio a sites ou temáticas indesejadas não são totalmente fiáveis, pois muitas vezes limitam informação inofensiva e não detectam a negativa. O melhor dispositivo de protecção é colocar o computador num local de passagem da casa, de maneira a que possa a qualquer momento verificar o que o seu filho está a fazer, devendo por isso passar regularmente por esse espaço. É completamente desaconselhado que o computador das crianças ou adolescentes esteja no quarto destes o que poderá impossibilitar os pais de o consultarem visualmente sempre que desejem.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

3ª idade: Razões para sorrir


De acordo com a Organização Mundial de Saúde é considerado idoso aquele que tem mais de sessenta e cinco anos, mas esta fronteira entre pré e pós idoso não é linear e, depende muito do estado de desenvolvimento do país em que se insere. Em Portugal a esperança de vida tem uma média de 78,1 anos distribuída por 75 anos para os homens e de 81,2 para as mulheres, um número algo elevado se tivermos em conta que a média geral mundial é de 67,2 anos. Certo é que, este número tem vindo a crescer com o progresso da sociedade em geral e essa é uma das razões porque hoje existe a maior taxa de idosos de sempre. Em Portugal atinge os 17%. O envelhecimento como processo natural no desenvolvimento de cada um de nós, traz a ele associado as mais diversas transformações e perca de recursos fisiológicos, doenças crónicas e várias limitações, sobretudo motivadas por questões psicológicas e sociais. Depois de uma longa vida activa, o mais comum é encontrar nas pessoas ditas velhas, tristeza e solidão. A sociedade actual continua despreparada na reintegração das pessoas que atingiram a terceira idade. Nomeadamente após se reformarem as pessoas ficam e sentem-se à deriva, sem saber o que fazer a partir dali. A disparidade entre uma vida de trabalho e dias inteiros sem qualquer actividade agendada e obrigatória causa uma descompensação que torna os mais velhos susceptíveis a patologias. Para tal contribui a rejeição e preconceito de uma população dita desenvolvida, onde só cabem os activos e com sucesso, e que mantém a crença de que a velhice torna as pessoas fracas e inúteis. É por isso urgente promover a inclusão social e garantir os direitos desses cidadãos, muitas vezes vítimas de violência não só física como psicológica. Depressão, ansiedade, problemas relacionados com dor, perturbações do sono, perda de independência e abordagem sistemática de assuntos ligados à morte, são frequentemente diagnosticados pelos psicólogos. A função dos terapeutas passa também pela avaliação de estados de demência e outras perturbações da memória e capacidade de desempenho de tarefas, para além de trabalharem com os familiares no sentido de um melhor entendimento da doença. Percebendo que a luta pela realização de um objectivo é na maioria das vezes mais estimulante que a efectivação do mesmo, perguntamo-nos que incentivo têm aqueles que consideram que o tempo útil para a realização de sonhos terminou. É importante que estabeleçam novos objectivos, em que um estilo de vida activa esteja presente, através de actividades que proporcionem sentimentos de prazer, de satisfação e divertimento como ginástica, dança, natação ou caminhada. As mais valias físicas passam pela manutenção dos reflexos, flexibilidade, mobilidade, melhoria da capacidade cardiorespiratória, conservação do equilíbrio e aumento da densidade óssea. Quanto aos benefícios psicológicos podemos destacar a diminuição da depressão e a melhoria da auto-estima, para os quais contribuem também actividades culturais, como assistir a espectáculos, visitas a museus, excursões ou até mesmo fazer voluntariado. Na terceira idade nada acaba, simplesmente muda. Assim também a sexualidade pode e deve continuar a fazer parte da vida dos mais “crescidos”, sobretudo se relembrarmos que sexualidade é muito mais que o acto sexual. Na terceira idade o importante é manter a independência e prevenir a incapacidade e especialmente garantir a qualidade de vida.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

O luto e as perdas




Todos nós, no percurso das nossas vidas, perdemos algo ou alguém, de que ou de quem gostamos muito. A vida é feita de afectos, de relacionamentos e de amores que, por vezes se iniciam despercebidamente, mas que, o tempo ou a intensidade determinam a força e solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem sempre manter esse amor é possível. Nem sempre manter esse relacionamento depende de nós. Às vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou algum dos dois morre, deixando assim um espaço vazio, que nem sempre se está preparado para aceitar. Depois do afastamento dá-se o processo de luto, acompanhado de sensações de tristeza manifestadas através de choro ou apatia, apertos no peito, perca de apetite, ansiedade, cansaço e dificuldades em manter a qualidade do sono. O desenvolvimento deste processo tem uma duração média de dois anos no decorrer dos quais estes sintomas vão-se dissipando a pouco e pouco. Segundo Kubler Ross o luto passa por cinco fases distintas começando por uma reacção de negação, em que o individuo que perde o “objecto” do seu amor tem muita dificuldade em aceitar tal facto e se sente impelido a negar o mesmo, de forma inconscientemente infantil, retrocedendo no seu eu, ainda que momentaneamente, a um estado de necessidade de afastamento e de protecção do que está a acontecer. Nesta primeira fase em que a pessoa chega a afirmar não ser verdade o óbvio, dá-se muitas vezes o isolamento. Passada esta primeira reacção, despoleta a raiva ou fúria acompanhada por sentimentos de injustiça. O indivíduo nesta fase, embora já não negue os factos, começa a questionar o que se passa, tentando encontrar incongruências, falhas de lógica e a racionalizar os acontecimentos. Por exemplo: se eu gostava tanto daquela pessoa porque é que ela acabou comigo? Não faz sentido. Um outro exemplo diz respeito a situações de morte, sobretudo inesperadas: era tão novo não “merecia” morrer. De seguida começam as sessões de negociação, que por norma incluem Deus ou uma entidade superior: se fizeres com que ele volte para mim eu prometo que vou ser diferente, ou, se ela ficar curada eu nunca mais discuto ou lhe levanto a voz. Todas estas reacções sequenciais são consideradas dentro da norma, por serem identificadas na maioria das pessoas que passa por um processo de luto. Apesar de, à primeira vista parecerem pouco conscientes, servem como amortecedores ao grande impacto, como se fossem um abrir caminho, lentamente, à evidência. É necessário que primeiramente nos escudemos neste tipo de defesas, para nos prepararmos para algo que o nosso consciente ainda não elaborou e avalia como prematuro aceitar. Na fase seguinte o indivíduo entra em depressão. Começa a recordar a vida ao lado do ente querido perdido, tendo forte tendência para descriminar os maus momentos, sobrevalorizando os felizes, dando assim ao afastamento ou separação um carácter ainda mais trágico. É por norma nesta altura que sente mais necessidade em falar do que se está a passar consigo, do que sente e do sofrimento pelo qual está a passar. É importante ter alguém à sua volta com capacidade de escuta, pois se isso acontecer é uma forte ajuda para que o sujeito consiga ir resolvendo a questão dentro de si e arranjar estratégias de “sobrevivência”. É então que chega à quinta e ultima fase, a da aceitação. Nesta altura a pessoa já experimentou todo o tipo de sentimentos e reacções relacionadas com a separação do ser amado, já reajustou os seus objectivos e reprogramou a sua vida. Cabe-lhe perceber que a mudança externa deu-se independentemente da sua vontade e que lhe cabe iniciar as transformações internas necessárias, decorrentes da ausência do outro na sua vida.

Quando essa quebra na relação se dá a pouco e pouco, e o indivíduo se apercebe do inevitável, por exemplo num casamento onde as discussões são uma constante, ou se estivermos a falar de casos de doença prolongada e terminal, trata-se de duas situações em que por o afastamento não se dar bruscamente, as pessoas envolvidas vão-se preparando para o momento de separação. Vão elaborando essa situação, vão esperando pelo final, tentando perceber como vão ficar e reagir à vida, sem aquela pessoa com quem se habituaram a viver e a partilhar. Programam-se reajustes pessoais, profissionais e/ou familiares de modo a que o impacto da ausência de um elemento nas suas vidas seja o menor possível. Nessas circunstâncias é muito possível que se “saltem” fases do luto como por exemplo a negação, os sentimentos de injustiça ou as negociações. É esperado que a depressão aconteça de forma reactiva, dando depois lugar à aceitação. Existem no entanto outros casos em que o indivíduo, por razões específicas a si inerentes não consegue percorrer as fases ditas espectáveis e se demora excessivamente numa delas, por exemplo na fase de negação ou na fase depressiva, desenvolvendo assim um luto patológico. Nesses casos existe a necessidade de acompanhamento psicológico para que a pessoa consiga viver e resolver cada uma das etapas e passar à seguinte.

Sílvia Silva - Psicologa Clinica






sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Inicio escolar


Mais um ano escolar que deu início. As mesmas dúvidas de sempre, se os livros chegam a tempo, se este ano os filhos se vão aplicar mais, se se consegue comprar tudo sem dar um rombo no orçamento, se a turma dos nossos filhos será bem comportada, se os professores serão simpáticos e acessíveis… preocupações naturais para os pais. O que é facto é que para uma criança ter um desenvolvimento escolar normal, é preciso que reúna todas as condições não só físicas mas também psicológicas. A pré-disposição que levam para as aulas, sobretudo os mais pequenos que este ano se estrearam nestas andanças “dos grandes”, é fundamental e determinante. Quando os pais com a sua sabedoria e serenidade explicam a um filho que a escola é como uma arca onde se guardam os tesouros que eles com empenho irão conquistar, o mundo-escola não chega a ser um bicho-de-sete-cabeças. É sim encarado como um jogo, onde cumprindo as regras se pode ganhar. É um desafio em que cada novo amigo se torna num aliado desta viagem inconfundivelmente fascinante.

Sílvia Silva - Psicologa Clínica

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Terapia familiar


Este tipo de terapia surgiu na segunda metade do Séc. XX, apresentando-se como uma inovadora e poderosa ferramenta de auxilio a famílias com problemas funcionais.

O que distingue esta forma de tratamento de todas as outras é o facto de se considerar o problema como um todo, independentemente das partes. O quadro normal em famílias que procuram ajuda na terapia familiar é estas serem constituídas por elementos que na sua individualidade ou nas suas relações com os outros não apresentam queixas.

Quando juntos em ambiente familiar, os vários elementos acabam por se desentender, dando origem a situações de desconforto, de agressão psicológica, verbal ou física que resultam num conflito manifestamente desagradável. Situações de tristeza ou mau estar são também vulgares nestes quadros familiares. A principal questão é perceber que mesmo nas situações em que apenas um elemento se apresenta como “o problema” na maioria dos casos ele é apenas o sintoma da patologia dentro daquele sistema em especifico. Por exemplo um adolescente pode ter dificuldades de aprendizagem, desafio aos pais e/ou falta de respeito para com os mesmos e no entanto ser um jovem bem sucedido entre os pares e sem levantar problemas de maior nos vários contextos sociais de que faz parte. Uma análise ao funcionamento daquela família poderá mostrar inexistência de qualidade afectiva entre os pais e/ou destes para com o adolescente. Outro exemplo poderá ser uma situação depressiva num dos elementos do casal que acaba por implicar na dinâmica familiar com os filhos (desatenção, desinteresse, reacções agressivas), mas que resultou do afastamento do cônjuge por mau entendimento na intimidade sexual que este não soube resolver dentro do casal.

Parece-nos claro que, quando um indivíduo recorre a ajuda psicológica levado por um ambiente familiar hostil, o trabalho terapêutico terá um pequeno impacto uma vez que conseguirá quanto muito ajudar o paciente a lidar com a situação que ali o trouxe mas não a resolve-la. Quando o acompanhamento psicológico é com crianças, o psicólogo envolve, ou tenta envolver ao máximo os pais nesse processo de modificação de atitudes e processamento de informação. Também nestes casos, com crianças, na sua grande parte elas não passam de sintomas de problemas conjugais dos seus progenitores, ou outros problemas familiares.

Por isso mesmo o que a terapia familiar propõe é inverter os papéis: em vez de considerar o indivíduo com o seu problema e procurar perceber a família em que se inclui como forma contextual de inserção do mesmo, considera a família com o seu problema, procurando perceber os vários elementos que a constituem e que estarão na origem das situações que ali se apresentam. A abordagem diz-se sistémica por isso mesmo, porque o acompanhamento é feito em sistema de família deixando para segundo plano os sujeitos que dela fazem parte. Neste tipo de orientação considera-se que cada pessoa não pode ser vista isoladamente, mas sim inserida num sistema familiar e que todos os seus actos são resultantes da qualidade da engrenagem.

A terapia familiar está indicada aquando da necessidade de mudança de funcionamento da família. Assim entende-se que terapia familiar é toda a terapia que se aplica simultaneamente a mais que um elemento da mesma família e que, o resultado da mudança de um dos elementos irá implicar inevitavelmente nos outros elementos. Para tal é obviamente fulcral que os elementos implícitos na família sistémica se disponibilizem a fazer parte da terapia, com tudo o que esse processo entende.

Daí ser imprescindível definir o plano de tratamento e estabelecer com todos os intervenientes o ou os tipo(s) de acompanhamento que se irá(ão) efectuar. No decorrer do acompanhamento define-se se deve trabalhar com todos os elementos familiares em simultâneo, se só com uma parte ou se com um elemento individualmente.

Podemo-nos focar nos padrões de relacionamento da família, nas pessoas que constituem aquele sistema familiar de forma independente conjugando toda a informação a posteriori. Este tipo de terapia poderá ainda abranger elementos externos à família, como vizinhos ou amigos que façam parte da rotina familiar. Existem terapeutas que adoptam o método multi familiar, em que várias famílias integram a mesma sessão e são ouvidas, expondo situações semelhantes entre si.

Na terapia familiar outra das situações recorrentes é a terapia sexual ou conjugal. Quando um casal entra num processo de dificuldade de comunicação ou de sintonia na relação, não é raro optar por acompanhamento numa terapia que o ajudará a perceber o estado da relação. Fazendo o ponto da situação poderá projectar o futuro junto ou separado, mas sempre consciente do que mantêm em comum. Dentro da terapia conjugal conseguem perceber-se dificuldades a nível sexual como sintomática do detrioramento da relação, ou problemas no casal resultantes por exemplo de situações mal resolvidas na família mais alargada como com pais e sogros.

Também no intuito de minimizar os danos psicológicos do casal ou dos seus filhos, a crescente percentagem de divórcios leva a que se recorra cada vez mais a terapeutas familiares, para a resolução de disputas relativas à guarda dos filhos ou financeiras, o que levou à criação dos Mediadores Familiares.                                  

Sílvia Silva - Psicologa Clínica                                                                

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Assédio moral no trabalho ou Mobbing


A crise, apesar de relativamente recente já nos parece velha de tão ouvida, debatida e opinada. Já muito se escreveu sobre o tema: o que é, como surgiu, como evitar ou como contornar a situação. Contudo, a importância de alertar para os seus efeitos secundários aumenta. A crise financeira tornou-se desculpa para muitas situações e atitudes que em nada se associam às questões económicas. Quem não ouviu já falar em Lay-off? Embora a grande parte da população nunca tenha ouvido tal designação, actualmente muitos sabem que este termo significa redução no horário de trabalho, redução no salário e consequente instabilidade no emprego, e ameaça do futuro de famílias inteiras.

Outro termo talvez ainda mais estranho ao ouvido de todos nós é: Mobbing, mesmo que muitos já o sintam diariamente e sofram os efeitos que este pretende provocar. Mobbing, termo inglês associado a agressão, maus tratos ou ataque a alguém, são todos os actos, subtis ou não, ocorridos de forma sistemática e continua que no local de trabalho, não necessariamente na pessoa do patrão, são infligidos no funcionário de forma a humilhá-lo, frustrá-lo e impedi-lo de exercer as suas funções normais, com o objectivo de lhe provocar um mau estar insuportável e assim o afastar da empresa, fazendo com que seja o próprio a apresentar a demissão ou o pedido de reforma antecipado. Mobbing reflecte-se em comportamentos, dotados de agressividade física ou psicológica, ou situações de persecução que pretendem diminuir a auto-estima da vítima, bem como colocá-la numa posição onde dificilmente conseguirá defender-se. Exemplos disso podem ser acusações injustas de erros profissionais, rumores maldosos sobre a vítima, inutilidade das funções atribuídas ou desautorização. Algumas estratégias utilizadas passam por impedir o trabalhador de desempenhar as suas funções retirando-lhe o seu posto de trabalho como a secretária, o telefone, viatura da empresa e internet, isolando o funcionário, colocando-o por vezes numa sala vazia, separado da restante equipa de trabalho. O mobbed/vítima vai ficando cada vez mais debilitado e aterrorizado, resultado dos comportamentos hostis, ausentes do sentido de ética ou de justiça sofridos. Esta não é de todo uma situação nova, os primeiros estudos remontam ao inicio da década de 80 pela mão de um grupo de estudiosos liderado por Heinz Leymann e tem vindo a suscitar cada vez mais interesse na área do estudo do comportamento por se tratar de um fenómeno crescente, muitas vezes confundido com Bullying, apesar deste ultimo ser normalmente associado a uma faixa etária mais jovem e ao universo escolar. Outro termo relacionado é Bossing. Se Bullying significa agir com arrogância, Bossing significa chefiar com arrogância. Já Mobbing, ainda que semelhante por ser exercido no local de trabalho, destingue-se por poder ser praticado por um ou mais mobber/funcionários da mesma empresa, a um mobbed/vitima, com um cargo hierárquico inferior ou não, podendo inclusivamente o atacante ser um subalterno.

A realidade actual potencia enormemente esta situação: seja por parte da entidade patronal que quer ver os recursos humanos reduzidos sem os custos que a isso é obrigada; quer por parte dos colegas de trabalho, independentemente da semelhança das funções exercidas por cada um, que, motivados pelo receio de perder o seu posto de trabalho dão inicio a uma estratégia de destruição psicológica, profissional e social.

A vítima de Mobbing, no seu extremo, sente-se de tal forma debilitada que é atingida a todos os níveis: pessoal, afectivo, familiar, social e sobretudo psicológico, fruto do transtorno profissional vivenciado. Também a nível físico dão-se manifestações graves: stresse, alteração do sistema nervoso, ansiedade, perturbações a nível do sono e ou da alimentação, depressão, eczemas, erupções cutâneas ou tumores. Estas são algumas das reacções psicossomáticas a este fenómeno que apesar de tão grave, mantém-se praticamente inaudível tal a dificuldade em provar os acontecimentos a que a vítima é sujeita. Para tal muito contribuem os colegas, chamados de sighted mobber, que têm conhecimento da situação, presenciam alguns acontecimentos e no entanto mantêm-se indiferentes, não tomando nenhuma posição de defesa para com o colega, co-agindo assim com o agressor. O medo de represálias, a qualidade da posição hierárquica que ocupa, ou a afinidade que sente com o agressor, por também ele desejar “livrar-se” daquele colega como forma de manter o seu posto de trabalho, podem justificar este comportamento.

Também a lei portuguesa não especifica uma protecção jurídica para os trabalhadores vitimas de Mobbing ou Assédio Moral, apesar do Projecto de Lei nº 252/VIII de 2000 destinado à Protecção Laboral Contra o Terrorismo Psicológico ou Assédio Moral.

Perante tal situação de impunidade, o melhor será estar atento e tentar promover condições para que as situações vividas possam ser provadas.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

 

 

 

 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Gravidez


Engravidar é dos momentos mais bonitos que um ser humano pode experienciar, seja no papel de mãe ou de pai. É o resultado de um projecto muito bem pensado, de um sonho desejado toda uma vida e que finalmente se torna real quando se julga ter chegado a altura certa para a chegada de um novo ser ao seio familiar. Por isso se pode dizer que um bebé antes de vir ao mundo, antes mesmo de ser gerado, já existe no pensamento dos seus papás, sobretudo das mamãs que desde muito cedo projectam este acontecimento, chegando a escolher com vários anos de antecipação os nomes para os seus herdeiros. Não há quem não deseje ter um descendente, alguém com algo de si (o melhor de si preferencialmente), para dar continuidade à espécie. Para além disto, um filho é também, ou deve ser, o resultado do amor de um homem e de uma mulher, a materialização de uma relação que se pretende feliz e se espera duradoira. Parece que a decisão de engravidar, de escolher o momento certo é efectivamente o mais difícil. Quando a ideia se concretiza e o casal descobre que a mulher está grávida, dá-se uma mistura de emoções tão ricas e intensas como a nova fase de vivências que se inicia. A partir do momento da confirmação da gravidez a alegria confunde-se com a ansiedade, o orgulho com o sentimento de responsabilidade, a realização pessoal com o medo de não se ser capaz. Porque uma gravidez implica planificação de actividades, de carreiras, reorganização de ocupações e de tarefas, de vidas. Obriga a múltiplas mudanças, não só no quotidiano dos directamente responsáveis, os pais, mas muitas vezes também de quem os rodeia e que servirá de auxílio quando os progenitores não possam, como avós, tios e padrinhos. Durante o tempo de gestação o casal planeia, prepara, deseja e sonha. Sonha com o bebé e idealiza-o. E o resultado é o que em psicologia se chama: bebé imaginário. Começa a imaginar-se uma criança com traços físicos do pai, características psicológicas da mãe, mas sempre um filho bonito, educado, inteligente e saudável, e vai-se assim construindo a imagem da nova pessoa que vai chegar, com alguma margem de erro, não vá o filho trocar as voltas aos papás e ser a cara da mãe e o feitiozinho do avô paterno. Quando o bebé nasce bonito e saudável e se encaixa nos prognósticos feitos é o culminar do maior dos sonhos, a utopia tornada realidade. No entanto nem sempre este novo e inocente ser, que não pediu para nascer, se enquadra no que foi sonhado para ele, não preenchendo os critérios eleitos pelos progenitores. O choque que então se dá entre o bebé imaginário e o bebé real é por vezes tão violento que impede a natural aceitação por parte dos principais e únicos pilares desta criança indefesa. É para os mesmos considerado um fracasso, não só pessoal como familiar e social, o que origina um sentimento de culpa de tal ordem, responsável por grande parte das patologias associadas à gravidez e ao parto, sendo a mais conhecida de entre todas a depressão pós-parto.

Pergunte aqui, caso tenha duvidas, sobre:

Gravidez

Hábitos saudáveis durante a gravidez

Desconfortos na gravidez

Estratégias de alívio

Sinais de alarme

Parto

Trabalho de parto Plano de parto

Tipos de parto

Fases do trabalho de parto

Sinais de alerta para recorrer à maternidade

O que levar para a maternidade

Estratégias para alívio da dor

Papel do pai

Partilha de experiencias em grupo

Amamentação

Factores facilitadores da amamentação

Possíveis dificuldades

Estratégias de alívio

Recém-nascido

Características e competências do recém-nascido

Cuidados de higiene e conforto ao recém-nascido

Medidas de segurança

Puerpério

Cuidados de higiene e conforto no pós-parto

Hábitos saudáveis

Sinais de alarme

Vivência da sexualidade no pós-parto

Sílvia Silva - Psicologa Clinica

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Parkinson


No dia 11 de Abril comemora-se o dia Mundial do doente de Parkinson, por ser o dia de aniversário do primeiro médico a descrever um caso, em 1817, desta doença e por isso acabou por lhe dar o nome, o inglês James Parkinson.

Sem uma causa conhecida, a doença de Parkinson é no entanto a consequência da degeneração e morte celular dos neurónios responsáveis pela produção de dopamina no sistema nervoso central, fundamentalmente num local específico denominado substancia nigra. Uma vez que não se sabe ainda a verdadeira origem da doença, vão-se pondo várias hipóteses tais como o efeito da vitamina D, pequenos defeitos nas enzimas, factores ambientais como a poluição ou a (má) qualidade da alimentação. Ainda outra hipótese (forte) é a componente genética. Pensa-se que a Doença de Parkinson pode ser herdada entre familiares directos.
Por ser uma doença em que os sinais se podem confundir com os inerentes à velhice, é na maioria das vezes identificada em estado muito avançado, havendo por norma um elevado grau de negligência quanto aos sintomas cognitivos, apesar das queixas manifestas de tristeza e irritabilidade, sintomáticas de depressão e ansiedade. Alterações do humor, insónias e perca de olfacto, são outros dos sintomas. A dificuldade no processamento da informação leva a um desacerto entre o pensamento e a acção o que provoca pequenos acidentes domésticos inicialmente, e com o evoluir da situação, ocorrências que podem ter uma gravidade tal que leve à desmotivação, redução ou falta de iniciativa para efectuar tarefas ou qualquer tipo de actividades.  
As vitimas da doença de Parkinson, pessoas a partir dos 60 anos (são raros os casos de jovens portadores desta doença) começam por apresentar tremores musculares, acinesia, dificuldade em caminhar devido muito provavelmente tanto à rigidez dos músculos como à falta de equilíbrio ou uma instabilidade postural que vai aumentando. De forma sintética poder-se-á dizer que o facto de haver morte cerebral lenta e progressiva e o não rejuvenescimento de novas células neurais traduz-se num desfazamento entre o pensamento e a actividade motora. O elemento intelectual permanece intacto, ao passo que o físico não responde à informação que o doente de Parkinson pretende transmitir aos seus sentidos. Para alem destes sintomas, apresentam alterações da voz que se torna monotónica, devido à dificuldade em controlar os músculos da face e laringe e a dificuldade em engolir, também relativamente à postura há uma importante tendência à curvatura para a frente e quanto à escrita fica nitidamente disforme e imperceptível, com tendência a diminuir de tamanho. Qualquer que seja o sintoma começa por se manifestar nas extremidades e sobretudo de um dos lados do corpo, começando por exemplo no membro superior esquerdo, a seguir no membro inferior esquerdo, seguindo-se o membro superior direito e posteriormente o membro inferior direito, notando-se mais em tarefas com carácter específico como segurar algo, iniciar ou parar a marcha ou mudar de direcção. No combate à diminuição da qualidade de vida, aplicam-se os tratamentos até agora possíveis que têm sobretudo como principal objectivo restabelecer os níveis de dopamina. No entanto é ainda possível fazer uma intervenção cirúrgica tendo em vista a estimulação de núcleos como o globo pálido.

Assim, não tendo cura, a Parkinson tem alguns tratamentos que podem de alguma forma retardar os sintomas e adiar uma situação que se vai tornando cada vez mais incapacitante. No entanto, para além de todo o avanço da medicina, comprova-se que, o apoio familiar, a disponibilidade dos cuidadores informais, muitas vezes personificados por filhos, sobrinhos ou netos e sobretudo o afecto existente em redor dos padecentes de Parkinson é o que proporciona, pela motivação e estimulo, à qualidade de vida necessária ao retardamento dos principais sintomas.

Silvia Silva - Psicologa Clinica

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Dupla personalidade





Sílvia Silva - Psicologa Clínica

Epilepsia



Por ser uma doença que apresenta um quadro, aquando das crises mais graves, que assusta e impressiona negativamente quem o assiste, a epilepsia tem sido desde sempre muito encoberta, no que diz respeito ao seu esclarecimento e a ela estão relacionados muitos mitos. Em Portugal estima-se que por cada mil habitantes, até sete pessoas podem sofrer de epilepsia. Podendo atingir qualquer pessoa e começar em qualquer idade, inicia-se sobretudo em jovens até aos vinte e cinco anos, sendo que setenta e cinco por cento acontece antes dos dezoito anos.

Trata-se de uma alteração na actividade eléctrica do cérebro que despoleta descargas neuronais, através de sinais eléctricos incorrectos decorrentes no cérebro. Manifesta-se através de crises convulsivas motoras, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas, que por norma duram poucos minutos. Podem ser crises parciais, simples ou complexas, sendo estas ultimas as mais conhecidas, pela sua intensidade, uma vez que, nestas circunstâncias, o individuo perde por completo a consciência, involuntariamente contrai a musculatura corporal ficando completamente hirto, podendo daí resultar movimentos desordenados e consequente queda violenta. Nestes casos a descarga envolve todo o cérebro, o paciente fica “ausente” e quando acorda não se lembra de nada do que aconteceu. Nesse período de tempo existe salivação em abundância, eliminação de fezes ou urina.

Para além de ser o órgão que controla todas as acções, desde os movimentos às emoções, passando pela memória e pensamentos, é também ao cérebro que cabe a tarefa de regular as funções dos restantes órgãos do corpo humano. Quando se dá um "curto-circuito" no cérebro, e parte ou todas as células se descarregam anormalmente, daí resultando um ataque epiléptico, isso compromete toda a actividade regular do indivíduo. Nas crises menos profundas a descarga limita-se a uma área cerebral e podem dar-se algumas alterações na percepção geral que podem reverter em discurso incoerente ou emoções como o medo. Assim, é fácil confundir convulsões febris, normais sobretudo em crianças, com epilepsia. Outras origens de crises podem ser choques eléctricos, deficiência de oxigénio, traumatismo craniano, avc’s, baixo nível de açúcar no sangue ou causas relacionadas com álcool, nomeadamente privação do mesmo, ou com drogas e medicamentos, mudanças súbitas de intensidade da luz ou luzes a piscar, privação de sono, cansaço e ansiedade.

Tal como nas convulsões febris, também nestes casos estamos perante situações isoladas e por isso não podemos concluir tratar-se da doença. Para que possa ser assim considerada, a epilepsia deve pronunciar-se por crises repetidas que aconteçam ao longo do tempo.

Desfazendo o mito que as principais causas da epilepsia se devem a aspectos genéticos ou hereditários (o que na realidade acontece mas numa percentagem pouco importante), há sim a ter em conta tumores, partos mal conduzidos, infecções graves ou meningites na proveniência da epilepsia.

 Desde a antiguidade considerados como demoníacos, lunáticos, maníacos ou doentes mentais, os epilépticos detiveram sobre si uma carga psicológica e social negativa que afasta os demais. Associado aos ataques epilépticos está um profundo estigma que provoca descriminação social e consequentemente no doente medo, ansiedade e isolamento. Para que essa barreira seja ultrapassada é importante haver informação sobre o que fazer perante uma crise. Então, a saber:

 

  • Proteja a cabeça da vítima com uma almofada e desaperte-lhe a roupa.
  • A pessoa poderá morder a própria língua, mas não irá engoli-la. Por isso, não lhe coloque objectos na boca nem tente puxar a língua para fora.
  • Deixe a vítima debater-se livremente. Coloque-a deitada em posição lateral para que a saliva escorra e a pessoa não se engasgue.
  • Mantenha-a em repouso no fim da convulsão. Deixe-a dormir.

  • Não deite água sobre a vítima, não lhe bata na cara e não tenha receio (a saliva de uma pessoa com epilepsia não transmite a doença). Não deve fazer massagem no coração ou respiração boca-a-boca.


Sílvia Silva - Psicologa Clínica

A importância de brincar


Tal como a alimentação, os bons hábitos de sono e a higiene, contribuem de igual modo para o bom desenvolvimento psicomotor da criança as actividades lúdicas, ou seja, a brincadeira. O tempo dos pais escasseia à medida que as exigências do mundo do trabalho aumentam. Um dia em que o pai tenha chatices no emprego e a mãe chegue tão cansada a casa que se limite a dar de comer aos filhos, dar-lhes banho e enfiá-los na cama é considerado normal e até rotina. Fica a faltar o estar com a criança, brincar com ela, trocar experiências perdendo-se assim entre outras coisas fontes de conhecimento mútuo. Os estudos apontam Portugal como o país da Europa em que os pais menos brincam com os seus filhos e apenas seis por cento das crianças portuguesas têm esse privilégio diariamente. A importância de brincar reflecte-se nas potencialidades e habilidades psicomotoras que os jogos lúdicos promovem através do exercício da imaginação e promovem o desenvolvimento das aptidões sociais, motoras, afectivas, cognitivas e da linguagem. Considera-se fundamental para o desenvolvimento harmonioso do jovem ser, que todos os dias pais e filhos brinquem juntos pelo menos algum tempo, em que a qualidade e entrega no mesmo seja a ter mais em conta do que a quantidade. Quando brincam no bairro ou no parque infantil os mais pequenos experienciam actividades ao ar livre e em grupo desenvolvendo com autonomia, capacidades lúdicas e sociais. A criança utiliza o brincar como meio de experimentar o mundo, percebe-lo, conhece-lo, descobrir como funciona e se desenvolve. É a sua forma de se preparar para dele fazer parte, ganhando através dessas experiências noções espaciais e sonoras e adquirindo a liberdade de tentar andar e falar, propiciando assim a natural evolução da sua locomoção e da fala. Com a aquisição da linguagem começam os jogos de imitação, as brincadeiras de faz-de-conta, as canções e as lengalengas, construindo uma base indispensável na futura aprendizagem da leitura e escrita. As formas de brincar vão-se alterando à medida que a criança cresce e as suas necessidades psicológicas e sociais a isso exigem. Manusear objectos, jogar, empilhar e explorar o mundo ainda que de forma primária refere-se à fase sensório-motora, que diz respeito à etapa inicial do desenvolvimento cognitivo. A criança precisa de treinar a organização do pensamento, a simbolização, e exprimir através da brincadeira e dos objectos que dela fazem parte, as suas necessidades, desejos, medos, experiências e sobretudo o que as magoa e atormenta. Utilizando a sua primeira forma de comunicação, para brincar a criança depende inicialmente do adulto para o conseguir fazer. Sobretudo com a mãe, pessoa mais próxima do bebé, começa por interagir com ela sorrindo e olhando-a e reagindo aos seus estímulos, demonstrando imediatamente a necessidade de brincar, mas também com o pai e restantes familiares, a criança estabelece elos de comunicação através de expressões não verbais, de manifestações que podem incluir a brincadeira. O atirar ao chão um objecto para o adulto o apanhar, repetindo-o vezes sem conta é uma estratégia que a criança encontrou para pôr o outro a brincar consigo. Quando monta e desmonta um brinquedo está a tentar percebe-lo, entender de que é feito e como é feito. E todas as vezes que não o consegue voltar a montar, a criança frustra-se e tenta de novo, vendo-se obrigada a arranjar estratégias novas para resolver o problema, explorando dessa forma o seu potencial intelectual. Um adulto que brinque assiduamente com o seu filho, estabelece assim uma forte ligação afectiva e intimidade com este. Começa a saber o que ele gosta, o que não gosta tanto, o que o incomoda ou o que o deixa deveras feliz. Quando inquiridas as crianças respondem que preferem brincar com os pais, fazer com estes actividades ao ar livre e utilizar brinquedos para ocupar os seus tempos livres, do que ver televisão ou jogar computador, ao contrário do que se poderia pensar. Estas últimas actividades surgem como preferidas em crianças que não têm hábitos de brincadeira com os pais, estando estes por regra, muito ocupados ou despendendo pouco tempo para com os filhos. Quando um pai ou mãe brinca com o seu filho está imperativamente a estimulá-lo, a dar-lhe atenção, a transmitir-lhe confiança, a interagir com ele, integrando-o deste modo no seu universo que é o mundo real. A aquisição da comunicação e o seu desenvolvimento dependem de factores como o afectivo, o social e o biológico. Neste ultimo destaca-se o processo de maturação do sistema nervoso central que é responsável por todo o desenvolvimento do indivíduo. Esse desenvolvimento influencia a brincadeira da mesma forma que a brincadeira influência o normal decorrer do desenvolvimento. Quando isso não acontece e a criança se vê privada de momentos lúdicos e do brincar, pode ter sérias repercussões tanto no seu estado psicológico, como físico ou social. O facto de não ter explorado o brincar promove insegurança, medos e isolamento social, que muitas vezes permanecem ao longo da vida.
 
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica