sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O luto e as perdas




Todos nós, no percurso das nossas vidas, perdemos algo ou alguém, de que ou de quem gostamos muito. A vida é feita de afectos, de relacionamentos e de amores que, por vezes se iniciam despercebidamente, mas que, o tempo ou a intensidade determinam a força e solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem sempre manter esse amor é possível. Nem sempre manter esse relacionamento depende de nós. Às vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou algum dos dois morre, deixando assim um espaço vazio, que nem sempre se está preparado para aceitar. Depois do afastamento dá-se o processo de luto, acompanhado de sensações de tristeza manifestadas através de choro ou apatia, apertos no peito, perca de apetite, ansiedade, cansaço e dificuldades em manter a qualidade do sono. O desenvolvimento deste processo tem uma duração média de dois anos no decorrer dos quais estes sintomas vão-se dissipando a pouco e pouco. Segundo Kubler Ross o luto passa por cinco fases distintas começando por uma reacção de negação, em que o individuo que perde o “objecto” do seu amor tem muita dificuldade em aceitar tal facto e se sente impelido a negar o mesmo, de forma inconscientemente infantil, retrocedendo no seu eu, ainda que momentaneamente, a um estado de necessidade de afastamento e de protecção do que está a acontecer. Nesta primeira fase em que a pessoa chega a afirmar não ser verdade o óbvio, dá-se muitas vezes o isolamento. Passada esta primeira reacção, despoleta a raiva ou fúria acompanhada por sentimentos de injustiça. O indivíduo nesta fase, embora já não negue os factos, começa a questionar o que se passa, tentando encontrar incongruências, falhas de lógica e a racionalizar os acontecimentos. Por exemplo: se eu gostava tanto daquela pessoa porque é que ela acabou comigo? Não faz sentido. Um outro exemplo diz respeito a situações de morte, sobretudo inesperadas: era tão novo não “merecia” morrer. De seguida começam as sessões de negociação, que por norma incluem Deus ou uma entidade superior: se fizeres com que ele volte para mim eu prometo que vou ser diferente, ou, se ela ficar curada eu nunca mais discuto ou lhe levanto a voz. Todas estas reacções sequenciais são consideradas dentro da norma, por serem identificadas na maioria das pessoas que passa por um processo de luto. Apesar de, à primeira vista parecerem pouco conscientes, servem como amortecedores ao grande impacto, como se fossem um abrir caminho, lentamente, à evidência. É necessário que primeiramente nos escudemos neste tipo de defesas, para nos prepararmos para algo que o nosso consciente ainda não elaborou e avalia como prematuro aceitar. Na fase seguinte o indivíduo entra em depressão. Começa a recordar a vida ao lado do ente querido perdido, tendo forte tendência para descriminar os maus momentos, sobrevalorizando os felizes, dando assim ao afastamento ou separação um carácter ainda mais trágico. É por norma nesta altura que sente mais necessidade em falar do que se está a passar consigo, do que sente e do sofrimento pelo qual está a passar. É importante ter alguém à sua volta com capacidade de escuta, pois se isso acontecer é uma forte ajuda para que o sujeito consiga ir resolvendo a questão dentro de si e arranjar estratégias de “sobrevivência”. É então que chega à quinta e ultima fase, a da aceitação. Nesta altura a pessoa já experimentou todo o tipo de sentimentos e reacções relacionadas com a separação do ser amado, já reajustou os seus objectivos e reprogramou a sua vida. Cabe-lhe perceber que a mudança externa deu-se independentemente da sua vontade e que lhe cabe iniciar as transformações internas necessárias, decorrentes da ausência do outro na sua vida.

Quando essa quebra na relação se dá a pouco e pouco, e o indivíduo se apercebe do inevitável, por exemplo num casamento onde as discussões são uma constante, ou se estivermos a falar de casos de doença prolongada e terminal, trata-se de duas situações em que por o afastamento não se dar bruscamente, as pessoas envolvidas vão-se preparando para o momento de separação. Vão elaborando essa situação, vão esperando pelo final, tentando perceber como vão ficar e reagir à vida, sem aquela pessoa com quem se habituaram a viver e a partilhar. Programam-se reajustes pessoais, profissionais e/ou familiares de modo a que o impacto da ausência de um elemento nas suas vidas seja o menor possível. Nessas circunstâncias é muito possível que se “saltem” fases do luto como por exemplo a negação, os sentimentos de injustiça ou as negociações. É esperado que a depressão aconteça de forma reactiva, dando depois lugar à aceitação. Existem no entanto outros casos em que o indivíduo, por razões específicas a si inerentes não consegue percorrer as fases ditas espectáveis e se demora excessivamente numa delas, por exemplo na fase de negação ou na fase depressiva, desenvolvendo assim um luto patológico. Nesses casos existe a necessidade de acompanhamento psicológico para que a pessoa consiga viver e resolver cada uma das etapas e passar à seguinte.

Sílvia Silva - Psicologa Clinica






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