Todos
nós, no percurso das nossas vidas, perdemos algo ou alguém, de que
ou de quem gostamos muito. A vida é feita de afectos, de
relacionamentos e de amores que, por vezes se iniciam
despercebidamente, mas que, o tempo ou a intensidade determinam a
força e solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem sempre manter
esse amor é possível. Nem sempre manter esse relacionamento depende
de nós. Às vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou algum dos
dois morre, deixando assim um espaço vazio, que nem sempre se está
preparado para aceitar. Depois do afastamento dá-se o processo de
luto, acompanhado de sensações de tristeza manifestadas através de
choro ou apatia, apertos no peito, perca de apetite, ansiedade,
cansaço e dificuldades em manter a qualidade do sono. O
desenvolvimento deste processo tem uma duração média de dois anos
no decorrer dos quais estes sintomas vão-se dissipando a pouco e
pouco. Segundo Kubler Ross o luto passa por cinco fases distintas
começando por uma reacção de negação, em que o individuo que
perde o “objecto” do seu amor tem muita dificuldade em aceitar
tal facto e se sente impelido a negar o mesmo, de forma
inconscientemente infantil, retrocedendo no seu eu, ainda que
momentaneamente, a um estado de necessidade de afastamento e de
protecção do que está a acontecer. Nesta primeira fase em que a
pessoa chega a afirmar não ser verdade o óbvio, dá-se muitas vezes
o isolamento. Passada esta primeira reacção, despoleta a raiva ou
fúria acompanhada por sentimentos de injustiça. O indivíduo nesta
fase, embora já não negue os factos, começa a questionar o que se
passa, tentando encontrar incongruências, falhas de lógica e a
racionalizar os acontecimentos. Por exemplo: se eu gostava tanto
daquela pessoa porque é que ela acabou comigo? Não faz sentido. Um
outro exemplo diz respeito a situações de morte, sobretudo
inesperadas: era tão novo não “merecia” morrer. De
seguida começam as sessões de negociação, que por norma incluem
Deus ou uma entidade superior: se fizeres com que ele volte para
mim eu prometo que vou ser diferente, ou, se ela ficar curada
eu nunca mais discuto ou lhe levanto a voz. Todas estas reacções
sequenciais são consideradas dentro da norma, por serem
identificadas na maioria das pessoas que passa por um processo de
luto. Apesar de, à primeira vista parecerem pouco conscientes,
servem como amortecedores ao grande impacto, como se fossem um abrir
caminho, lentamente, à evidência. É necessário que primeiramente
nos escudemos neste tipo de defesas, para nos prepararmos para algo
que o nosso consciente ainda não elaborou e avalia como prematuro
aceitar. Na fase seguinte o indivíduo entra em depressão. Começa a
recordar a vida ao lado do ente querido perdido, tendo forte
tendência para descriminar os maus momentos, sobrevalorizando os
felizes, dando assim ao afastamento ou separação um carácter ainda
mais trágico. É por norma nesta altura que sente mais necessidade
em falar do que se está a passar consigo, do que sente e do
sofrimento pelo qual está a passar. É importante ter alguém à sua
volta com capacidade de escuta, pois se isso acontecer é uma forte
ajuda para que o sujeito consiga ir resolvendo a questão dentro de
si e arranjar estratégias de “sobrevivência”. É então que
chega à quinta e ultima fase, a da aceitação. Nesta altura a
pessoa já experimentou todo o tipo de sentimentos e reacções
relacionadas com a separação do ser amado, já reajustou os seus
objectivos e reprogramou a sua vida. Cabe-lhe perceber que a mudança
externa deu-se independentemente da sua vontade e que lhe cabe
iniciar as transformações internas necessárias, decorrentes da
ausência do outro na sua vida.
Quando
essa quebra na relação se dá a pouco e pouco, e o indivíduo se
apercebe do inevitável, por exemplo num casamento onde as discussões
são uma constante, ou se estivermos a falar de casos de doença
prolongada e terminal, trata-se de duas situações em que por o
afastamento não se dar bruscamente, as pessoas envolvidas vão-se
preparando para o momento de separação. Vão elaborando essa
situação, vão esperando pelo final, tentando perceber como vão
ficar e reagir à vida, sem aquela pessoa com quem se habituaram a
viver e a partilhar. Programam-se reajustes pessoais, profissionais
e/ou familiares de modo a que o impacto da ausência de um elemento
nas suas vidas seja o menor possível. Nessas circunstâncias é
muito possível que se “saltem” fases do luto como por exemplo a
negação, os sentimentos de injustiça ou as negociações. É
esperado que a depressão aconteça de forma reactiva, dando depois
lugar à aceitação. Existem no entanto outros casos em que o
indivíduo, por razões específicas a si inerentes não consegue
percorrer as fases ditas espectáveis e se demora excessivamente numa
delas, por exemplo na fase de negação ou na fase depressiva,
desenvolvendo assim um luto patológico. Nesses casos existe a
necessidade de acompanhamento psicológico para que a pessoa consiga
viver e resolver cada uma das etapas e passar à seguinte.
Sílvia Silva - Psicologa Clinica
Sílvia Silva - Psicologa Clinica
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