A dinâmica do
mundo moderno favoreceu o aparecimento de muitas doenças e transtornos mentais,
em especial no ambiente de trabalho. Para além da selva em que o mercado de
trabalho se transformou e o esforço que cada um de nós tem que fazer para
manter o seu emprego, a própria sociedade consumista que privilegia os cargos
ou postos ocupados, acaba por avaliar os indivíduos pelas profissões que cada
um possui.
O Síndrome de
Burnout é um fenómeno psicossocial directamente relacionado com o mundo laboral
e refere-se a uma reacção ao estado de exaustão e diminuição de interesse
relativo ao trabalho, em que, o que a este diz respeito deixa de ter
importância e qualquer esforço pessoal parece ser inútil. Trata-se de uma fadiga
extrema que resulta de uma tensão emocional crónica associado a um período de
esforço excessivo com intervalos demasiadamente curtos para recuperação. Burnout é um termo inglês: burn=queima
e out=exterior, sugerindo assim
que a pessoa com esse tipo de stresse consome-se física e emocionalmente,
passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Alguns dos
factores agregados ao Síndrome de Burnout podem ser dificuldades de
relacionamento com chefes, colegas ou clientes, conflitos entre trabalho e
família, pouca autonomia no desempenho profissional, sentimento de
desqualificação ou de falta de cooperação em equipa. Esta síndrome
é uma das consequências mais marcantes do stresse profissional e caracteriza-se
não só por exaustão emocional, mas também por avaliação negativa de si mesmo,
depressão e uma despersonalização que leva à insensibilidade com relação ao que
o rodeia. Estes sintomas emocionais podem transformar-se em problemas físicos como
fadiga crónica, dores de cabeça, insónias, úlceras gástricas, hipertensão
arterial, taquicardia, arritmia, perda de peso, dores musculares e de coluna,
alergias e lapsos de memória. E também em alterações dos hábitos: maior consumo
de café, álcool e medicamentos, faltas no trabalho, impaciência, sentimentos de
impotência, incapacidade de concentração e baixa tolerância à frustração. Em extremo podem ter comportamentos
paranóicos tais como agressividade ou tentativas de suicidio. As pessoas
que na sua vida têm profissões predominantemente relacionadas a um contacto
interpessoal mais exigente, com frequentes e intensas interacções,
emocionalmente densas, tais como médicos; enfermeiros; assistentes sociais;
funcionários públicos, polícias ou bombeiros e todos os profissionais que interagem de
forma activa com pessoas, que cuidam ou solucionam problemas das mesmas e de
quem se espera uma atitude, no mínimo solidária, têm uma maior propensão a
serem atingidas por este problema. Não há nada mais desgastante e consumidor de
energia humana do que os conflitos, tanto internos como externos. Apesar disso,
a solução não pode passar pelo isolamento e a evitação do contacto com os outros
para prevenir conflitos, porque tal atitude pode causar o sentimento de solidão.
As pessoas padecentes de Burnout são os chamados: excelentes funcionários. São
pessoas extremamente dedicadas às instituições que representam, que fazem
imensas horas extra para respeitar prazos, são pessoas altamente motivadas e
exigentes consigo e com os outros, perfeccionistas e rígidas. No entanto estar
envolvido em relacionamentos, tarefas e ambientes carregados de stresse por uma
quantidade de tempo superior ao que cada um pode suportar ou consegue lidar
pode transformar a pessoa em uma espécie de autómato. As características de
humanização e ajuda vão decrescendo, revelando-se em demonstrações grosseiras e
negativas para com as pessoas com quem lida no local de trabalho podendo
estender-se ao contexto particular. O que acontece é que para não entrar em
colapso a pessoa passa a agir automaticamente sem qualquer envolvimento emocional,
o que resulta desastroso na produtividade e no clima organizacional. É
importante perceber que Síndrome de Burnout não é o mesmo que depressão ou
simples stresse. Enquanto nos depressivos percebe-se uma maior apatia e
sentimentos de culpa e perda, quem sofre de Síndrome de Burnout caracteriza-se
sobretudo por desapontamento, cansaço e tristeza, perfeitamente identificado e
associados ao trabalho.
Como forma de contornar este problema há que, antes de
mais, admitir que algo não está bem consigo mesmo, sobretudo se identifica
vários dos sintomas aqui descritos e perceber que o problema ainda que tenha
partido de outro/s passou a fazer parte de si. Assim deixam-se algumas
sugestões de estratégias para lidar com o stresse: a) Realizar actividades
de relaxamento; b) Organizar o tempo e decidir quais são as prioridades; c) Manter
uma dieta equilibrada e fazer exercício físico; d) Discutir os problemas com os
colegas de profissão; e) Promover acções de formação sobre gestão de conflitos.
Em
casos extremos, aconselha-se a ajuda profissional.
Sílvia
Silva – Psicóloga Clínica