quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As crianças e as novas técnologias


Independentemente de se gostar muito ou pouco, o que é facto é que as antigas brincadeiras de miudos pertencem definitivamente ao passado. O jogar ao berlinde, à macaca, às escondidas ou à apanhada deixaram de fazer parte do quotidiano dos nossos filhos. A pouco e pouco a técnologia foi-se instalando e actualmente é impossivel dispensarmo-la. A televisão há muito que nos vicia a todos. E se inicialmente as crianças tinham pouco acesso porque nos lares havia quanto muito um aparelho, sobretudo destinado ao lazer dos mais velhos, agora não é raro que hajam pelo menos dois ou três televisores por casa, em que no minimo um se destina total e exclusivamente aos mais pequenos.

Os carros comandados, os pequenos jogos electronicos portateis ou os walkman’s seguiram-se nesta evolução sem no entanto criar a dependencia verificada hoje.

Os jogos de computador foram aparecendo e sendo inseridos no dia a dia dos mais pequenos. A densa e complexa máquina de marketing aliada à melhoria de condições económicas por parte dos pais, fez com que estes satisfizessem os caprichos dos filhos, criando assim um efeito de causa consequencia, justificado ainda pelo aumento de horas de trabalho nos empregos, principalmente para as mulheres que deixaram de acompanhar a educação das crianças a tempo inteiro, resultando na sua pouca disponibilidade e na necessidade de manterem as crianças ocupadas de uma forma agradavel, tranquilizando os pais por considerarem que, de alguma forma, as estavam a compensar.

A televisão, tal como os jogos de computador, não tem que ser, ou pelo menos não deve ser encarada como mau ou prejudicial. O que torna qualquer tecnologia pouco benéfica é o seu uso excessivo, que por um lado potencia sentimentos de agressividade, competição a qualquer custo e dificuldades de partilha e por outro inibe processamentos de pensamento, capacidade de criação, para além de aumentar o sedentarismo. Hoje sabe-se que a percentagem de sedentarismo relacionada com a utilização de tecnologias ronda os 73% nas crianças.

A responsabilidade de grande parte desta percentagem pode atribuir-se à internet.

A partir dos 6 anos, com a entrada no mundo escolar inicia-se também o interesse pelas tecnologias que permitam maior conhecimento. Uma vez mais não será a internet uma ameaça por si só, mas sim o que a ela está directa ou indirectamente ligado. É urgente que os pais enquanto educadores entendam que como em qualquer nova aventura, as crianças a podem viver mas sempre com acompanhamento e atenção. É preciso serem-lhes ensinados os limites, as regras e assim o controle que progressivamente poderão autonomamente adquirir. O tempo máximo de utilização, a forma como o fazem, o que podem e não podem, são itens intransponiveis. Se os pais estiverem por perto, para além de controlarem e ajudarem na navegação, podem igualmente participar jogando ou dando dicas. Quando esta tecnologia é utilizada como meio de estudo, pode ser efectivamente um auxiliar educativo de excelencia tanto na navegação, como sempre que são utilizados softwares educativos com incidencia por exemplo no desenvolvimento do raciocinio lógico-matemático.

Mas para isso é indispensavel que os pais se envolvam, estejam a par e percebam que funcionalidades e objectivos têm cada um dos brinquedos, jogos ou outros recursos tecnologicos que as crianças utilizem e sejam peça fundamental nessa selecção.

Alguns brinquedos, como por exemplo o tamagotchi, auferem à criança um sentido de responsabilidade, preocupação e controlo que lhes aumenta as potencialidades humanas. O facto das novas tecnologias poderem facilitar a comunicação e deitar por terra barreiras fisicas é um dos principais pontos positivos a elas relacionado, sobretudo se pensarmos nas crianças com deficiencias fisicas. A utilização das novas tecnologias permite-lhes estar e se sentir no mesmo patamar que as outras crianças oferecendo-lhes um novo sentimento de igualdade, e o serem estimuladas permite o aparecimento de outras potencialidades. Desta forma poderão aprender ao seu ritmo, contrariando um possivel insucesso escolar.

Principais riscos na internet:

Invasão de privacidade; Assédio e solicitações online; Cyberbullying; Sites agressivos ou de conteúdo inapropriado; Sites que incentivam o suicídio



Dicas para consultar:

Pais e Filhos na Internet –Um guia para uma navegação segura”; Links e Recursos propostos pela American Academy of Pediatrics; Growing Up Online

NetSmartz; Childnet International




Tenha também em conta que os dispositivos de bloqueio a sites ou temáticas indesejadas não são totalmente fiáveis, pois muitas vezes limitam informação inofensiva e não detectam a negativa. O melhor dispositivo de protecção é colocar o computador num local de passagem da casa, de maneira a que possa a qualquer momento verificar o que o seu filho está a fazer, devendo por isso passar regularmente por esse espaço. É completamente desaconselhado que o computador das crianças ou adolescentes esteja no quarto destes o que poderá impossibilitar os pais de o consultarem visualmente sempre que desejem.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

3ª idade: Razões para sorrir


De acordo com a Organização Mundial de Saúde é considerado idoso aquele que tem mais de sessenta e cinco anos, mas esta fronteira entre pré e pós idoso não é linear e, depende muito do estado de desenvolvimento do país em que se insere. Em Portugal a esperança de vida tem uma média de 78,1 anos distribuída por 75 anos para os homens e de 81,2 para as mulheres, um número algo elevado se tivermos em conta que a média geral mundial é de 67,2 anos. Certo é que, este número tem vindo a crescer com o progresso da sociedade em geral e essa é uma das razões porque hoje existe a maior taxa de idosos de sempre. Em Portugal atinge os 17%. O envelhecimento como processo natural no desenvolvimento de cada um de nós, traz a ele associado as mais diversas transformações e perca de recursos fisiológicos, doenças crónicas e várias limitações, sobretudo motivadas por questões psicológicas e sociais. Depois de uma longa vida activa, o mais comum é encontrar nas pessoas ditas velhas, tristeza e solidão. A sociedade actual continua despreparada na reintegração das pessoas que atingiram a terceira idade. Nomeadamente após se reformarem as pessoas ficam e sentem-se à deriva, sem saber o que fazer a partir dali. A disparidade entre uma vida de trabalho e dias inteiros sem qualquer actividade agendada e obrigatória causa uma descompensação que torna os mais velhos susceptíveis a patologias. Para tal contribui a rejeição e preconceito de uma população dita desenvolvida, onde só cabem os activos e com sucesso, e que mantém a crença de que a velhice torna as pessoas fracas e inúteis. É por isso urgente promover a inclusão social e garantir os direitos desses cidadãos, muitas vezes vítimas de violência não só física como psicológica. Depressão, ansiedade, problemas relacionados com dor, perturbações do sono, perda de independência e abordagem sistemática de assuntos ligados à morte, são frequentemente diagnosticados pelos psicólogos. A função dos terapeutas passa também pela avaliação de estados de demência e outras perturbações da memória e capacidade de desempenho de tarefas, para além de trabalharem com os familiares no sentido de um melhor entendimento da doença. Percebendo que a luta pela realização de um objectivo é na maioria das vezes mais estimulante que a efectivação do mesmo, perguntamo-nos que incentivo têm aqueles que consideram que o tempo útil para a realização de sonhos terminou. É importante que estabeleçam novos objectivos, em que um estilo de vida activa esteja presente, através de actividades que proporcionem sentimentos de prazer, de satisfação e divertimento como ginástica, dança, natação ou caminhada. As mais valias físicas passam pela manutenção dos reflexos, flexibilidade, mobilidade, melhoria da capacidade cardiorespiratória, conservação do equilíbrio e aumento da densidade óssea. Quanto aos benefícios psicológicos podemos destacar a diminuição da depressão e a melhoria da auto-estima, para os quais contribuem também actividades culturais, como assistir a espectáculos, visitas a museus, excursões ou até mesmo fazer voluntariado. Na terceira idade nada acaba, simplesmente muda. Assim também a sexualidade pode e deve continuar a fazer parte da vida dos mais “crescidos”, sobretudo se relembrarmos que sexualidade é muito mais que o acto sexual. Na terceira idade o importante é manter a independência e prevenir a incapacidade e especialmente garantir a qualidade de vida.
 
Sílvia Silva - Psicologa Clínica

O luto e as perdas




Todos nós, no percurso das nossas vidas, perdemos algo ou alguém, de que ou de quem gostamos muito. A vida é feita de afectos, de relacionamentos e de amores que, por vezes se iniciam despercebidamente, mas que, o tempo ou a intensidade determinam a força e solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem sempre manter esse amor é possível. Nem sempre manter esse relacionamento depende de nós. Às vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou algum dos dois morre, deixando assim um espaço vazio, que nem sempre se está preparado para aceitar. Depois do afastamento dá-se o processo de luto, acompanhado de sensações de tristeza manifestadas através de choro ou apatia, apertos no peito, perca de apetite, ansiedade, cansaço e dificuldades em manter a qualidade do sono. O desenvolvimento deste processo tem uma duração média de dois anos no decorrer dos quais estes sintomas vão-se dissipando a pouco e pouco. Segundo Kubler Ross o luto passa por cinco fases distintas começando por uma reacção de negação, em que o individuo que perde o “objecto” do seu amor tem muita dificuldade em aceitar tal facto e se sente impelido a negar o mesmo, de forma inconscientemente infantil, retrocedendo no seu eu, ainda que momentaneamente, a um estado de necessidade de afastamento e de protecção do que está a acontecer. Nesta primeira fase em que a pessoa chega a afirmar não ser verdade o óbvio, dá-se muitas vezes o isolamento. Passada esta primeira reacção, despoleta a raiva ou fúria acompanhada por sentimentos de injustiça. O indivíduo nesta fase, embora já não negue os factos, começa a questionar o que se passa, tentando encontrar incongruências, falhas de lógica e a racionalizar os acontecimentos. Por exemplo: se eu gostava tanto daquela pessoa porque é que ela acabou comigo? Não faz sentido. Um outro exemplo diz respeito a situações de morte, sobretudo inesperadas: era tão novo não “merecia” morrer. De seguida começam as sessões de negociação, que por norma incluem Deus ou uma entidade superior: se fizeres com que ele volte para mim eu prometo que vou ser diferente, ou, se ela ficar curada eu nunca mais discuto ou lhe levanto a voz. Todas estas reacções sequenciais são consideradas dentro da norma, por serem identificadas na maioria das pessoas que passa por um processo de luto. Apesar de, à primeira vista parecerem pouco conscientes, servem como amortecedores ao grande impacto, como se fossem um abrir caminho, lentamente, à evidência. É necessário que primeiramente nos escudemos neste tipo de defesas, para nos prepararmos para algo que o nosso consciente ainda não elaborou e avalia como prematuro aceitar. Na fase seguinte o indivíduo entra em depressão. Começa a recordar a vida ao lado do ente querido perdido, tendo forte tendência para descriminar os maus momentos, sobrevalorizando os felizes, dando assim ao afastamento ou separação um carácter ainda mais trágico. É por norma nesta altura que sente mais necessidade em falar do que se está a passar consigo, do que sente e do sofrimento pelo qual está a passar. É importante ter alguém à sua volta com capacidade de escuta, pois se isso acontecer é uma forte ajuda para que o sujeito consiga ir resolvendo a questão dentro de si e arranjar estratégias de “sobrevivência”. É então que chega à quinta e ultima fase, a da aceitação. Nesta altura a pessoa já experimentou todo o tipo de sentimentos e reacções relacionadas com a separação do ser amado, já reajustou os seus objectivos e reprogramou a sua vida. Cabe-lhe perceber que a mudança externa deu-se independentemente da sua vontade e que lhe cabe iniciar as transformações internas necessárias, decorrentes da ausência do outro na sua vida.

Quando essa quebra na relação se dá a pouco e pouco, e o indivíduo se apercebe do inevitável, por exemplo num casamento onde as discussões são uma constante, ou se estivermos a falar de casos de doença prolongada e terminal, trata-se de duas situações em que por o afastamento não se dar bruscamente, as pessoas envolvidas vão-se preparando para o momento de separação. Vão elaborando essa situação, vão esperando pelo final, tentando perceber como vão ficar e reagir à vida, sem aquela pessoa com quem se habituaram a viver e a partilhar. Programam-se reajustes pessoais, profissionais e/ou familiares de modo a que o impacto da ausência de um elemento nas suas vidas seja o menor possível. Nessas circunstâncias é muito possível que se “saltem” fases do luto como por exemplo a negação, os sentimentos de injustiça ou as negociações. É esperado que a depressão aconteça de forma reactiva, dando depois lugar à aceitação. Existem no entanto outros casos em que o indivíduo, por razões específicas a si inerentes não consegue percorrer as fases ditas espectáveis e se demora excessivamente numa delas, por exemplo na fase de negação ou na fase depressiva, desenvolvendo assim um luto patológico. Nesses casos existe a necessidade de acompanhamento psicológico para que a pessoa consiga viver e resolver cada uma das etapas e passar à seguinte.

Sílvia Silva - Psicologa Clinica