A perturbação do comportamento infantil e juvenil é uma patologia que tem vindo a evidenciar-se nas últimas gerações e que com ela traz consequências, de peso extremo, sociais e pessoais consideradas irreversíveis. Esta conduta não é nova, mas com a evolução e a enorme preocupação com os direitos humanos fundamentais, sobretudo os das crianças, seria de esperar que todas as condições estivessem reunidas para um desenvolvimento saudável tanto físico como psicológico, bem como um crescimento satisfatório nas crianças do mundo contemporâneo. Considera-se sobretudo necessário que o nascimento de um filho seja resultado de um projecto do casal, apesar disso é frequente observar que o dispêndio de energia inerente ao projecto parental educativo, assim como a realidade do nascimento e crescimento de uma criança com as implicações e obrigações que tal acarreta, ultrapassam muitas vezes a disponibilidade parental. A falta de regras e orientação básicas no construir do caminho evolutivo de uma criança é representativo da volubilidade parental que desencadeia a insegurança e baixa auto-estima na criança. Para se falar de uma criança nunca a podemos descrever isoladamente, sendo preciso fazê-lo no contexto em que ela se insere e onde tem crescido. Mesmo que as crianças possam não ser inofensivas, são inocentes e a sua culpabilidade e responsabilidade tem de ser partilhada por quem as educa ou educa mal. As crianças protestarem e discutirem quando algo lhes é indeferido, é uma saudável e sintomática da necessidade de independência e autonomia, as birras são uma manifestação que caracteriza um desenvolvimento psico-afectivo normal ao contrário de birras incontroláveis, assim como a agressividade excessiva e os estados de agitação, pela disrupção que provocam. É preciso dizer que dificuldade no exercício da função não se pode confundir com incapacidade parental. A satisfação das necessidades educacionais, alimentares, psicológicas e afectivas da criança está directamente na proporção da formação de carácter do indivíduo em causa, assim como a gravidade dos comportamentos perturbados está também directamente ligada à precocidade dos primeiros comportamentos desviantes. E se por um lado está a falta de amor, por outro encontramos também o chamado “amor demais” que leva à super-protecção, impedindo a criança de experimentar e vivenciar as mais diversas tarefas e com elas crescer. Se a criança não é confrontada com situações de responsabilidade e não sofre a consequência das suas escolhas, dá lugar a condutas instintivas e responde com impulsividade a qualquer situação que lhe provoque alguma ameaça ou risco de perder a sua segurança e comodidade. A vontade dos pais em quebrar padrões rígidos, origina a compensarem os filhos pelo que não tiveram. À medida que cedem, perdem não só o controlo do que se passa, mas a firmeza e a certeza de a qualquer momento conseguirem resgatar a situação. O esforço que fazem para evitar sentimentos de frustração na criança aliado à indefinição de limites leva-a à incapacidade de compreender que não pode ter tudo ou que para ter é preciso esperar, desejar, imaginar ou criar. O facilitismo na velocidade com que a exigência é satisfeita e o capricho saciado, oferece aos mais pequenos uma imagem distorcida da realidade, que os desprepara para a vida adulta, que os engana e os fragiliza, tornando-as crianças vegetativas e inseguras, e lhes cria expectativas falsas de conseguirem alcançar objectivos ambiciosos sem esforço. São as rotinas, o respeito, os limites que por um lado (pais) se impõem e por outro lado (filho) se respeitam, o diálogo e liberdade de expressão, o suporte afectivo, o mimo e/ou o elogio que fazem com que inicialmente a criança e posteriormente o adolescente saiba que tem um lugar no mundo, que é o lugar especial que tem naquela família.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica