Ninguém gosta de errar. Esta é uma verdade absoluta. No entanto, com o passar do tempo e o aumento da maturidade, começamos a olhar para os erros de outra forma, de uma forma mais tolerante.
Percebemos até que os erros são muitas vezes apenas formas de nos levar para caminhos diferentes daqueles que iriamos se tudo corresse bem à primeira tentativa.
Quando conseguimos atingir estes níveis de consciência e aceitamos os erros como fazendo parte integrante do nosso percurso de vida, estamos aptos para transmitir estes ensinamentos aos nossos filhos, tendo sempre em conta as suas idades e níveis de desenvolvimento.
Costumo usar esta explicação que me parece acessível: o nosso cérebro tem ligações neuronais (estradinhas de neurónios) que se vão multiplicando na medida em que as vamos estimulando. E fazendo a analogia, multiplicamos o conhecimento que temos das várias estradas ou caminhos possíveis para chegarmos ao nosso destino/objectivo, quantas mais vezes errarmos ou, em alternativa, estudarmos o assunto. Se bem que, o conhecimento prático, o de errar no caminho e obrigatoriamente descobrir outro em alternativa, resulta quase sempre num conhecimento muito mais consistente do que aquele em que apenas lemos ou nos instruimos sobre.
Podemos ainda dizer que quanto mais aumentarmos o conhecimento das nossas “estradinhas” figurativas, do nosso pensamento, mais alternativas nós temos caso o caminho que tenhamos decidido percorrer inicialmente nos seja vedado.
Então e como é que multiplicamos, como é que aumentamos essas ligações neuronais que nos vão permitir não termos uma crise de raiva, de choro ou até de pânico quando nos apercebemos que não correu bem à primeira tentativa, à primeira escolha?
A resposta é: trabalhar a nossa resistência à frustração.
Podemos pensar na frustração como paredes ou barreiras, umas mais pequenas que outras, mas todas transponíveis. A lógica é começarmos pelas barreiras mais pequenas e quando já conseguirmos ultrapassa-las sem esforço, irmos aumentando o grau de dificuldade, desafiando-nos a superar aquilo que nem sempre corre como gostaríamos.
Sempre que poupamos à criança uma frustração natural proveniente da consequência de um erro, estamos a impedi-la de criar os seus caminhos alternativos, de ultrapassar barreiras e de aprender a lidar com a frustração e a impossibilita-la de diminuir a resistência à mesma. Em suma, estamos a obstruir o seu crescimento.
O tempo por si só não nos transforma, necessariamente. Aquilo que nos modifica, nos aprimora e nos dá maturidade é o que fazemos durante esse tempo. Proporcionarmos às nossas crianças vivências na sua plenitude, que incluam o experimentar, o errar, o aceitar e o consertar, é o que as fará crescer também e sobretudo por dentro.
Dito isto importa sublinhar de que forma devemos encarar os erros. Antes de tudo olhar para o erro. Percebe-lo. Analisá-lo. Entender porque aconteceu, o que nos levou a errar. Aferir se tivemos força para executar aquele movimento? Se tivemos o conhecimento necessário para desempenhar aquela tarefa? Se estudámos o suficiente sobre o tema? Só assim poderemos evita-lo. Só tendo em conta tudo isto poderemos ajudar e ensinar as nossas crianças a encarar o erro, a aceitá-lo, a interioriza-lo e a utiliza-lo para crescer e aumentar a sua maturidade.
Devemos fazê-lo progressivamente, permitindo à criança explorar, ensaiar.
E quando algo corre menos bem, reagir com naturalidade, explicando que há sempre várias formas de fazer uma mesma coisa e que, se a criança errou é porque não escolheu a melhor, a que mais se adequa à sua pessoa, às suas características, naquele momento e naquele contexto. E que portanto, vão juntos ponderar sobre o que aconteceu, para qua a criança consiga pensar em alternativas.
De realçar ainda que quando o erro e repetido uma e outra vez há que fazer uma pausa reflexiva maior. Erros repetidos e/ou sucessivos devem obrigar a um mais profundo ponto de situação sobre a nossa pessoa, sobre o momento que estamos a viver, sobre o nosso enquadramento e concluir qual é a nossa responsabilidade no que correu mal.
Sílvia Silva - Psicóloga Clínica