sexta-feira, 19 de março de 2021

A educação das crianças depois do divórcio

 



Nem sempre é fácil manter a disciplina após a separação definitiva entre pai e mãe. Contudo, é fundamental que aquela seja respeitada por ambos, para que não haja lugar para erros irreversíveis no futuro.

A partir do momento em que o seu filho recebe a notícia de que o pai e a mãe se vão divorciar, parece que o Mundo vai, de repente, desmoronar-se. Ao mesmo tempo, um turbilhão de sentimentos assola o pequeno, que se sente desprotegido, angustiado, assustado e infeliz com esta triste novidade.
Mas é possível atenuar esse misto de sentimentos sem cair na tentação de ceder a pressões e exigências? "Sim, é possível", responde Sílvia Silva, psicóloga clínica. O importante é transmitir, não só por meio de palavras, mas também de actos, de que "aconteça o que acontecer (divórcio incluído), aqueles continuarão a ser os seus pais e só a relação dos adultos se altera", sublinha a nossa entrevistada. Além disso, "quando os adultos, embora tendo terminado a relação amorosa entre si, mantêm a relação de pais da mesma criança, não existe razão para cair em tentações e cedências", declara.
Ou seja, é fundamental que continue a transmitir amor e confiança ao seu filho "e é por isso mesmo que não vão ceder, pois tudo se mantém igual e a educação que lhe deram até então será a mesma daí por diante também", frisa Sílvia Silva. Deste modo, a educação do seu filho persiste nos mesmos moldes estabelecidos anteriormente, caso contrário a confusão instala-se.

As mesmas regras em casas diferentes

Insistir no respeito pelas regras previamente estabelecidas quando os pai e mãe estão a viver cada um em sua casa é outra das prioridades. Afinal, as figuras materna e paterna persistem perante o seu filho, que deve também ser tratado como um indivíduo. Logo, tem de seguir as normas que já estavam instituídas. Além disso, "se os pais mantiverem o projecto de vida daquela criança, as regras manter-se-ão independentemente da casa onde a criança está", afirma Sílvia Silva.
Em contrapartida, "quando esse projecto não existe, é importante que passe a existir e que a criança passe a ser pensada como um indivíduo que é e, com isso, se pense o que é melhor para ela, levando o combinado por ambos (pais) a cabo, deixando de parte competições e tentativas do filho gostar mais de si do que do outro", realça a psicóloga clínica.

Seja firme em actos e palavras

O pior acontece quando passa a ceder às exigências do menino, "dando uma autoridade à criança que ela não está preparada para assumir", adverte. Perante este cenário, "em vez de se sentir bem, a criança fica ainda mais frágil ao perceber que aqueles seres fortes que eram os seus pais, deixaram de o ser e fazem tudo o que ela quer", declara a psicóloga clínica.
Na generalidade dos casos, os pais tendem a compensar os filhos, com o intuito de evitar que fiquem traumatizados com este desfecho. Esta situação começa a fazer parte da realidade a partir do momento em que julgam ter o controlo deste desenlace. Sílvia Silva explica que, quando os pais denotam fragilidade face a esta realidade, "e temendo traumatizar a criança, tentam compensá-la, cedendo a todos os caprichos".
Como se não bastasse, o seu filho pode passar a adoptar comportamentos regressivos: "a criança que já é autónoma deixa de o ser, fazendo com que os pais a acompanhem mais, a ajudem a vestir, calçar e comer, por exemplo, mostrando-lhes, desta forma, que a separação foi uma péssima ideia, porque ainda depende muito dos dois", explica a nossa entrevistada.
Por conseguinte, seja firme e jamais ceda às exigências do seu filho, para que não seja ele a assumir o poder. Até porque continua a ser pai/mãe, papel que deve ser desempenhado com afinco e responsabilidade.

Fomente o respeito e não a contradição

Além disso, "é vulgar a criança recusar-se a querer estar com um dos pais, principalmente quando sofre de Sindrome de Alienação Parental (quando o progenitor com que vive, tenta colocá-la contra o outro progenitor), bem como com a família da mesma parte", afirma. Este problema é frequente quando o pai e/ou a mãe, e/ou as respectivas famílias querem, a todo o custo, a atenção, a admiração e o carinho do seu filho, colocando-o contra o outro, "através de pequenos (ou grandes) jogos psicológicos, chantagens, mentiras, tentativas de denegrir a imagem e o bom nome do outro progenitor ou da família deste", esclarece a psicóloga clínica.
Torna-se também um hábito a oferta de brinquedos "ou todo o género de satisfação de caprichos", para "comprar" o pequeno. Uma prova de que um dos progenitores é inseguro, pois "por acharem que a criança já foi suficientemente traumatizada pela separação dos pais tentam, a todo o custo, compensá-la para que não tenha mais nenhum tipo de frustração, prejudicando-a fortemente ao eliminarem-lhe as regras e balizas da sua vida na altura em que mais precisa se sentir segura", alerta Sílvia Silva.
Portanto, evite as guerras entre as famílias e fomente o respeito, bem como a serenidade, entre todos. Só assim é possível que o seu filho cresça num ambiente saudável e equilibrado.


Com a colaboração de Sílvia Silva
psicóloga clínica