sexta-feira, 14 de junho de 2019
Pequenos/Grandes ditadores
A alteração de comportamento nas crianças e jovens nas ultimas gerações é preocupante. Hoje podemos dizer que os jovens estão mais mal comportados, irresponsáveis e, arriscaria, com atrasos de desenvolvimento psicológico a vários níveis, mas sobretudo na sua autonomia o que alastra e contamina as mais variadas áreas das suas vidas.
“As crianças fazem birras em todo o lado e os jovens são insuportáveis, não têm respeito por ninguém e não fazem nenhum. Passam a vida agarrados aos telemóveis. Crianças e jovens.” Já os há (e num numero crescente e preocupante) que à conta da utilização desmedida quer de jogos quer de redes sociais, tente o suicídio.
É assim que a sociedade descreve as gerações mais novas.
Talvez seja assim que as gerações mais novas são.
Já em 2012 aquando de uma pesquisa minha sobre as alterações do comportamento infantil e juvenil, descobri o livro de Javier Urra “O pequeno ditador”, onde explica parcialmente as razões desta metamorfose drástica de gerações.
As alterações politicas que resultaram em democracia e liberdade, provocaram nos filhos de então, hoje pais, uma necessidade desmedida de compensarem os seus filhos pelo que não tiveram, seja material, emocional ou socialmente. Se pensarmos que qualquer situação extremada traz consequências graves, percebemos que este passar do 8 para o 80 acabaria mais tarde ou mais cedo por trazê-las também.
O sentimento exagerado de protecção e a constante minimização e desculpabilização dos comportamentos das crianças e dos jovens faz com que não tenham que lidar com a frustração.
E aqui, de uma forma geral está o cerne da questão: Lidar com a frustração.
É ao lidar com a frustração que crescemos cognitivamente. O nosso cérebro ao ouvir um não, busca alternativas. Quando concordamos sempre com a pessoa, habituamos o seu cérebro a seguir uma linha que se vai enfatizando e cravando como sendo a certa, de uma forma absoluta e inquestionável. Lidar com o não e aprender a esperar, cria no nosso cérebro opções, dito de outra forma, passamos a perceber que não é assim tão grave que a autoestrada por onde costumamos ir para o nosso objectivo esteja daquela vez fechada, porque o NÃO fez-nos descobrir outros caminhos, alguns mais longos, menos fáceis, mas igualmente interessantes e superiormente enriquecedores a nível psicológico e consequentemente de desenvolvimento pessoal com efeitos benéficos socialmente. O que nos distingue das outras espécies é a nossa capacidade de pensar. Quando privados desse exercício, por acreditarmos que o nosso primeiro pensamento é imediatamente correcto e válido, ficamos desprovidos dessa nossa humanização, a tal que nos destingue dos animais e passamos tal como ele a reagir de forma agressiva quando, ao contrário do que fomos acostumados, a vida não corre como previsto.
Porque é que alguém agride outra pessoa quando esta decide já não querer mais se relacionar consigo? Porque não tem estruturas mentais para lidar com a frustração de querer aquela pessoa consigo e lhe ser vetada essa possibilidade.
os pequenos ditadores que estamos a “educar” são estes futuros adultos que não admitem ser contrariados.
Lidar com a frustração prepara-nos para as intempéries, para as contrariedades. Então, se sabemos que a vida é tudo menos uma linha recta, será justo enquanto pais privarmos os nossos filhos de, por si, com a nossa supervisão, desbravarem caminhos que os possam tornar pessoas mais capazes de viver em sociedade?
Os pais!
Quando se estuda o comportamento de uma criança ou jovem (e até de um adulto) não podemos faze-lo de uma forma correcta sem percebermos de que forma, o enquadramento parental influenciou a pessoa.
Alguns pais (“coincidentemente” aqueles que dificilmente dizem NÃO), ficam ofendidos por acharem injusto que se faça uma associação directa entre educação parental e comportamento infantil ou juvenil.
Importante relembrar que de facto todos nós temos algo de inato em nós e na nossa personalidade. Outro facto é também o de que tudo o resto é adquirido, sendo conveniente ter sempre presente que a maior parte do que adquirimos vem da forma como somos educados e de como é o nosso enquadramento familiar.
As crianças e jovens mal educados, que tantas vezes são diagnosticados pelos próprios pais e professores como hiperactivos, são, grande parte, resultado de praticas educativas pouco assertivas e ambientes familiares pouco saudáveis, estáveis e regulares.
As crianças e jovens insuportáveis e desrespeituosos precisam de aprender. Precisam de ouvir NÃOS e precisam de saber que todos os actos têm uma consequência e, que se agirem de forma correcta a consequência é positiva e que se agirem incorrectamente são penalizados. E isto, algo aparentemente tão básico, é simultaneamente tão essencial como difícil de pôr em prática pelos pais que se desresponsabilizam com “falta de tempo”.
As crianças e jovens de hoje precisam de aprender a crescer por dentro, para não serem só crescidos por fora.
Subscrever:
Mensagens (Atom)