quarta-feira, 18 de junho de 2014

Onde está o teu coração Martim?

- Então Martim? Martiiim, estamos todos à espera. - disse a professora já irritada. - Sempre com a cabeça no ar, nunca estás cá rapaz! - e todos se riram à gargalhada.

Uma vez mais o Martim não soube responder, ultimamente tinha muitas dificuldades na escola e tudo porque ao que parecia tinha uma doença: dificuldade em estar atento.

Ainda se a mãe lhe comprasse os comprimidos que a professora tinha mandado... Mas a mãe não tinha dinheiro, tinha muito pouco e não chegava para tudo, como ela dizia.

O Martim tinha consciencia disso, a mãe não parava de o repetir.

O pai não pagava a pensão, nem ajudava de maneira nenhuma, o Martim sabia disso.
Sabia porque a mãe achou que tinha mesmo que lhe contar, porque o Martim tinha de saber a verdade. Tinha de saber o que o pai era, afinal de contas a mãe era a vitima daquela história toda, ah pois, porque o pai do Martim não era só mau pai, tinha sido um péssimo marido.


A cabeça do Martim andava a mil, desde o divórcio dos pais, tudo tinha mudado e o Martim já nem podia brincar.

Tinha de ajudar a mãe e apoiá-la. Sim, apoiá-la muito porque ele agora é que era o homem da casa, como a mãe dizia. E o Martim pensava: "Ena, que fixe, eu é que mando, e só tenho oito anos". E o entusiasmo rapidamente se desvanecia: "Sou o homem da casa e não consigo dar dinheiro à mãe... e tenho medo... a mãe agora quer sempre que eu durma com ela, mas se vierem ladrões, eu tenho medo... mas ela quer que eu durma com ela. A mãe diz que eu é que quis, mas eu sei que não. Eu sei que não porque eu adoro o meu quarto, quando eu ainda dormia na minha cama logo a seguir ao meu pai ir viver para a outra casa, fechava os olhos e fingia que nada tinha acontecido.
Por isso eu sei que não fui eu que quis ir dormir para a cama da mãe. Só não posso é dizer-lhe isso. já tentei e ela ficou triste e disse que eu já não gostava dela.

Até perguntou se depois de tudo o que tem feito por mim eu afinal prefiro o meu pai?"

O Martim ainda gostava do pai... e muito. Divertia-se tanto quando aos fins de semana de quinze em quinze dias estavam juntos. Fazia-o lembrar quando moravam juntos.

Era tão bom... às vezes quando estava com o pai conseguia esquecer todos os problemas lá da casa da mãe e voltar a ser criança... mas sabia que quando o fim de semana acabasse, tinha que voltar a ser o homem da casa. E tinha também de fingir que o fim de semana não tinha sido assim tão bom. Não queria deixar a mãe triste por estar tão feliz.

Quando o Martim entrou na escola e o pai o levou no primeiro dia. Estava tão nervoso mas o pai tinha-lhe explicado que era normal sentir-se assim e que ia correr tudo bem.

Pensando bem era tão estranho... como é que agora tinha tantas dificuldades na escola se no primeiro e segundo ano tinha sido tão bom aluno... Era capaz de ter sido um virus, aquela doença do défice da atenção. Curioso ter apanhado na mesma altura que os pais se separaram, coicidencia talvez.