Este tipo de terapia surgiu
na segunda metade do Séc. XX, apresentando-se como uma inovadora e poderosa
ferramenta de auxilio a famílias com problemas funcionais.
O que distingue esta forma de
tratamento de todas as outras é o facto de se considerar o problema como um
todo, independentemente das partes. O quadro normal em famílias que procuram
ajuda na terapia familiar é estas serem constituídas por elementos que na sua
individualidade ou nas suas relações com os outros não apresentam queixas.
Quando juntos em ambiente
familiar, os vários elementos acabam por se desentender, dando origem a
situações de desconforto, de agressão psicológica, verbal ou física que
resultam num conflito manifestamente desagradável. Situações de tristeza ou mau
estar são também vulgares nestes quadros familiares. A principal questão é
perceber que mesmo nas situações em que apenas um elemento se apresenta como “o
problema” na maioria dos casos ele é apenas o sintoma da patologia dentro
daquele sistema em especifico. Por exemplo um adolescente pode ter dificuldades
de aprendizagem, desafio aos pais e/ou falta de respeito para com os mesmos e
no entanto ser um jovem bem sucedido entre os pares e sem levantar problemas de
maior nos vários contextos sociais de que faz parte. Uma análise ao
funcionamento daquela família poderá mostrar inexistência de qualidade afectiva
entre os pais e/ou destes para com o adolescente. Outro exemplo poderá ser uma
situação depressiva num dos elementos do casal que acaba por implicar na dinâmica
familiar com os filhos (desatenção, desinteresse, reacções agressivas), mas que
resultou do afastamento do cônjuge por mau entendimento na intimidade sexual
que este não soube resolver dentro do casal.
Parece-nos claro que, quando
um indivíduo recorre a ajuda psicológica levado por um ambiente familiar hostil,
o trabalho terapêutico terá um pequeno impacto uma vez que conseguirá quanto
muito ajudar o paciente a lidar com a situação que ali o trouxe mas não a
resolve-la. Quando o acompanhamento psicológico é com crianças, o psicólogo
envolve, ou tenta envolver ao máximo os pais nesse processo de modificação de
atitudes e processamento de informação. Também nestes casos, com crianças, na
sua grande parte elas não passam de sintomas de problemas conjugais dos seus
progenitores, ou outros problemas familiares.
Por isso mesmo o que a
terapia familiar propõe é inverter os papéis: em vez de considerar o indivíduo
com o seu problema e procurar perceber a família em que se inclui como forma
contextual de inserção do mesmo, considera a família com o seu problema,
procurando perceber os vários elementos que a constituem e que estarão na
origem das situações que ali se apresentam. A abordagem diz-se sistémica por
isso mesmo, porque o acompanhamento é feito em sistema de família deixando para
segundo plano os sujeitos que dela fazem parte. Neste tipo de orientação
considera-se que cada pessoa não pode ser vista isoladamente, mas sim inserida
num sistema familiar e que todos os seus actos são resultantes da qualidade da
engrenagem.
A terapia familiar está
indicada aquando da necessidade de mudança de funcionamento da família. Assim
entende-se que terapia familiar é toda a terapia que se aplica simultaneamente
a mais que um elemento da mesma família e que, o resultado da mudança de um dos
elementos irá implicar inevitavelmente nos outros elementos. Para tal é
obviamente fulcral que os elementos implícitos na família sistémica se
disponibilizem a fazer parte da terapia, com tudo o que esse processo entende.
Daí ser imprescindível definir
o plano de tratamento e estabelecer com todos os intervenientes o ou os tipo(s)
de acompanhamento que se irá(ão) efectuar. No decorrer do acompanhamento
define-se se deve trabalhar com todos os elementos familiares em simultâneo, se
só com uma parte ou se com um elemento individualmente.
Podemo-nos focar nos padrões
de relacionamento da família, nas pessoas que constituem aquele sistema
familiar de forma independente conjugando toda a informação a posteriori. Este
tipo de terapia poderá ainda abranger elementos externos à família, como
vizinhos ou amigos que façam parte da rotina familiar. Existem terapeutas que
adoptam o método multi familiar, em que várias famílias integram a mesma sessão
e são ouvidas, expondo situações semelhantes entre si.
Na terapia familiar outra
das situações recorrentes é a terapia sexual ou conjugal. Quando um casal entra
num processo de dificuldade de comunicação ou de sintonia na relação, não é raro
optar por acompanhamento numa terapia que o ajudará a perceber o estado da
relação. Fazendo o ponto da situação poderá projectar o futuro junto ou
separado, mas sempre consciente do que mantêm em comum. Dentro da terapia
conjugal conseguem perceber-se dificuldades a nível sexual como sintomática do
detrioramento da relação, ou problemas no casal resultantes por exemplo de
situações mal resolvidas na família mais alargada como com pais e sogros.
Também
no intuito de minimizar os danos psicológicos do casal ou dos seus filhos, a
crescente percentagem de divórcios leva a que se recorra cada vez mais a
terapeutas familiares, para a resolução de disputas relativas à guarda dos
filhos ou financeiras, o que levou à criação dos Mediadores Familiares.
Sílvia Silva - Psicologa Clínica